Título: Alckmin vai tentar tirar diferença em MG e RJ; Lula investe em SP
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Nacional, p. A12

Na matemática dos palanques de segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano Geraldo Alckmin já deflagraram suas estratégias para atrair apoios suficientes para garantir a vitória. Alckmin precisa descontar cerca de 6,5 milhões de votos, diferença imposta por Lula no primeiro turno. Seus aliados apostam que a maior parte desses votos possa vir especialmente de Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde existe grande potencial de crescimento da candidatura.

Já a campanha de Lula definiu o Sudeste como área prioritária, sendo São Paulo o alvo principal, uma vez que o presidente foi derrotado no Estado pelo PSDB por uma margem muito superior ao que sua campanha imaginava (cerca de 3,8 milhões de votos). Outras duas prioridades são as regiões Sul e Centro-Oeste, onde Lula foi surpreendido pela vitória do adversário em todos os Estados.

Nessa disputa pelas contas de segundo turno, Alckmin leva uma vantagem importante. A maioria de seus aliados regionais teve um tamanho eleitoral superior ao da sua candidatura nacional. Em Minas, por exemplo, Aécio Neves (PSDB) foi muito mais bem-sucedido no Estado do que Alckmin. Teve 7,4 milhões de votos, enquanto Alckmin teve apenas 4,1 milhões. Ou seja, existe um terreno de 3,3 milhões de votos novos que Alckmin poderá conquistar entre os eleitores do governador mineiro.

Naturalmente, a campanha de Lula vai trabalhar para evitar essa transferência de votos. É provável que alguns ministros mineiros, de origem parlamentar, se licenciem dos cargos para mergulhar na campanha. É o caso de Hélio Costa (Comunicações), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Walfrido Mares Guia (Turismo)

Até mesmo no Nordeste, onde o candidato tucano foi derrotado fragorosamente por Lula em todos os Estados, Alckmin pode ter alguma vantagem agora, que seria extremamente bem-vinda para sua campanha. No primeiro turno, o tucano teve 10,1 milhões de votos a menos do que o presidente na região. Esse abismo de votos pode ser um pouco reduzido pela adesão à campanha de Alckmin de candidatos que não se esforçaram a seu favor até agora.

Em Pernambuco, por exemplo, passa a ser uma questão de sobrevivência para o governador Mendonça Filho (PFL) apoiar Alckmin. Já está definido que Lula subirá no palanque de seu ex-ministro de Ciência e Tecnologia Eduardo Campos (PSB), que terá ainda o apoio do candidato petista derrotado Humberto Costa. Na votação passada, Alckmin foi quase ignorado pelo eleitor pernambucano, obtendo apenas 964.730 votos no primeiro turno, enquanto Lula teve 2 milhões a mais. Na corrida pelo governo Mendonça conquistou 1.578.001 votos, cerca de 600 mil a mais do que Alckmin, o que abre outra boa perspectiva para o tucano.

Lula não tem essa vantagem porque sua votação já foi muito alta no primeiro turno, o que lhe deixa na condição de ser maior eleitoralmente do que quase todos os aliados que possa ter no segundo turno. Essa situação só é diferente no Centro-Oeste, onde teve menos votos que os governadores eleitos André Puccinelli (PMDB-MS) e Blairo Maggi (PPS-MT). Por conta disso, Lula mandou emissários até os dois em busca de aliança.

Em São Paulo, a primeira providência foi mudar a coordenação de campanha de Lula, com a entrada da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy em substituição a Paulo Frateschi. Mesmo com a modificação, os aliados de Lula acham que a campanha no Estado está contaminada negativamente pelo impacto do dossiê Vedoin, um conjunto de denúncias contra políticos do PSDB montado por petistas de São Paulo, na sua maioria.

No Sul, os petistas vão tentar se aproximar dos políticos do PMDB. Lula teve cerca de 5,2 milhões de votos, cerca de 3,1 milhões a menos do que Alckmin. A tarefa é difícil. Em Santa Catarina, o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) entra no segundo turno declarando apoio a Alckmin. Seu adversário, Esperidião Amin (PP), pode até pedir votos para Lula, mas seu partido, tradicionalmente, faz oposição radical ao PT no Sul, o que dificulta a transferência de votos.