Título: Petista diz que mala de Lacerda continha dinheiro
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Nacional, p. A13

A Polícia Federal obteve depoimento que derruba a versão de Hamilton Lacerda, ex-coordenador de campanha de Aloízio Mercadante, para a sacola que levou ao hotel Íbis onde foram presos dois petistas com R$ 1,75 milhão destinados ao pagamento do dossiê Vedoin.

Confrontado com as imagens colhidas pelo circuito interno do hotel, Valdebran Padilha, um dos presos, reconheceu a mala que Lacerda levava como a mesma que lhe foi mostrada depois, cheia de dinheiro, por Gedimar Passos, o outro preso. A declaração foi dada ao delegado Diógenes Curado Filho e ao procurador Mário Lúcio Avelar, ontem à noite em Cuiabá.

Segundo o advogado de Valdebran, Luiz Antônio Lourenço, seu cliente afirmou ainda que Gedimar preferia levar a mala com ele sempre que saía do quarto 'para não deixar aquela quantidade toda de dinheiro sem fiscalização'. Com as declarações de Valdebran, fica confirmado que Hamilton Lacerda é 'o homem da mala' no caso do dossiê, embora haja suspeita de que outro homem também possa ter servido de intermediário de parte do dinheiro.

As imagens colhidas pela PF no hotel mostram que no mesmo dia 13 em que Lacerda foi flagrado pelas câmeras entregando uma mala a Gedimar, os dois petistas depois presos foram filmados no hall com a mesma mala nas mãos. Na imagem, é Gedimar quem segura a mala. No depoimento à PF na última sexta-feira, Lacerda declarou que dentro da mala havia apenas material de campanha e roupas, afirmou desconhecer qualquer negociação envolvendo dinheiro em torno do dossiê e responsabilizou o comitê de campanha de Lula pela divulgação de informações contra tucanos - que, segundo ele, poderiam ser usadas inclusive na campanha do presidente. Ainda conforme o advogado, Valdebran disse que ao ser preso, Gedimar usou a mala levada por Lacerda para colocar suas roupas e objetos pessoais.

Embora seja considerada um avanço, a confirmação de Valdebran ainda não é suficiente para embasar um novo pedido de prisão contra os principais envolvidos no caso, como deseja a PF.

De acordo com uma autoridade que acompanhha as investigações, a avaliação é de que presos e sob pressão, os envolvidos - entre eles, Lacerda - passariam a colaborar. Mas, para que o pedido de prisão tenha chances de vingar na Justiça, é preciso antes descobrir a origem do R$ 1,75 milhão, o principal nó da investigação até o momento.