Título: Serra pede e Lembo pára leilão da Caixa
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Nacional, p. A14

Dois dias depois de eleito governador de São Paulo, José Serra (PSDB) já está influenciando na condução da administração do Estado pelo atual titular do cargo, Cláudio Lembo (PFL). Ontem, o tucano conseguiu cancelar a venda de ações da Nossa Caixa. O leilão seria realizado ainda este ano para permitir ao Estado fechar, sem déficit, as contas deste ano. O buraco financeiro é de cerca de R$ 560 milhões - a venda renderia até R$ 800 milhões.

Lembo e Serra negam qualquer ingerência tucana na decisão. Até anteontem, no entanto, o pefelista se dizia publicamente favorável ao leilão. Já Serra sempre evitou falar do assunto para não polemizar com Lembo, mas estava incomodado com a insistência do pefelista de pôr em prática o processo no fim do governo. Os dois conversaram anteontem por telefone, quando marcaram o encontro de ontem - o primeiro depois da eleição.

Após o almoço no Palácio dos Bandeirantes, Lembo mudou o discurso e anunciou que não venderia mais 20% das ações do banco - hoje o Estado detém 71,25% das cotas. 'Creio que não é o momento, fim de governo... Temos de deixar para o governador José Serra as hipóteses de um trabalho futuro. Não quero dilapidar o patrimônio de São Paulo neste momento', justificou.

O caso Nossa Caixa abriu a conversa entre Serra e Lembo no almoço. O pefelista deu pessoalmente a notícia do cancelamento da venda ao tucano.

O governador não sabe ainda de onde tirará recursos para cobrir o déficit orçamentário e garantiu que há tempo para avisar o mercado internacional e cancelar oficialmente o leilão, que seria realizado no dia 16.

Serra voltou a negar influência na decisão. 'Eu só administrarei depois de 1º de janeiro.'

A situação da segurança pública, a área mais crítica do governo, também foi discutida. Mas ambos preferiram manter em segredo a conversa. 'Eu procurei aconselhamentos', disse Serra. 'Apenas registrei minha experiência e fiz os elogios necessários aos dois secretários (Saulo de Abreu, da Segurança, e Antônio Ferreira Pinto, Administração Penitenciária)', emendou Lembo.

TRANSIÇÃO

A reunião de ontem marcou oficialmente o início do governo de transição. Lembo ofereceu o segundo gabinete do governador, que fica no centro de São Paulo, para acomodar a equipe de Serra nos próximos 90 dias.

Da parte de Lembo, os coordenadores da transição foram escolhidos: o secretário da Casa Civil, Rubens Lara, e seu adjunto, José Eduardo de Barros Poyares. Serra deve anunciar o seu nos próximos dias. É provável que seja o coordenador de seu plano de governo, Hubert Alquéres.

Após o almoço com polenta, costeletas de cordeiro e batatas, Lembo levou o sucessor para uma visita à residência oficial do governador. Serra gostou do que viu. 'Claro que vou morar aqui', disse. Sobre conciliar a transição com a campanha do candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, avisou: 'Não será a primeira vez na vida que faço duas coisas ao mesmo tempo. Quando era adolescente eu via jogo do Palmeiras e estudava matemática ao mesmo tempo', contou, rindo.