Título: Regime de Kim pode ter material para 11 bombas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Internacional, p. A16

A Coréia do Norte pode ter material atômico para carregar de 3 a 11 ogivas de ataque. Não é uma conta certa. O governo de Pyongyang é reservado quanto à capacidade do complexo atômico de Yongbyon, onde faz o enriquecimento do urânio.

Nos Estados Unidos, Benjamin Gilman, relator da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Representantes, sustenta que o arsenal atômico coreano é de oito unidades.

Os números e o teste anunciado ontem elevaram a escala de alerta no Japão, na Coréia do Sul e na Austrália - os três países partilham informações de inteligência - ao nível mais alto desde fevereiro de 2005, quando a Coréia do Norte confirmou oficialmente a posse de armas nucleares.

A inquietação na região não atingiu a China. Há boas razões para isso. O ditador Kim Jong-il é um fiel parceiro e aliado do governo de Pequim. Há um considerável contingente de especialistas chineses trabalhando como voluntários no complexo industrial militar norte-coreano. Em outubro de 2001, a inteligência americana informava a Casa Branca sobre a 'cooperação técnica entre os dois países no programa de desenvolvimento de mísseis de vários tipos'.

A Coréia do Norte construiu e modernizou, desde 1990, cerca de 1.500 mísseis convencionais, com alcance entre 75 e 8 mil quilômetros. Vendeu 400 deles - os mais simples - para países como o Iraque (sob Saddam Hussein), o Irã, a Síria, a Líbia, o Paquistão, o Egito, o Iêmen e o Sudão. De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, a revitalização e a expansão da capacidade de velhos modelos dos mísseis Scud A/B/C fabricados na extinta União Soviética renderam a Pyongyang US$ 650 milhões - o suficiente para manter o programa de desenvolvimento e de construção de novos mísseis.

O resultado prático desse esforço é uma família formada pelo precursor Nodong-1, com alcance na faixa de 1.500 km, armado com uma ogiva de 250 kg. Depois dele seguem-se os Taepodongs, com raio de ação entre 2 mil e 12 mil quilômetros, fabricados em quatro diferentes centros industriais.

O maior deles, testado em julho, é uma arma cheia de segredos. Pode chegar ao Alasca e ao Havaí - ou mesmo à Costa Oeste dos EUA, em condições ideais. O Taepodong-3 mede 35,5 metros, tem três estágios, pesa 64 toneladas. O peso estimado das ogivas é de 800 quilos a 1 tonelada. Um relatório divulgado pelo governo americano seis meses atrás registra 'a precariedade do sistema de guiagem, baseado em tecnologia dos anos 80, (...) levando a erro de até 8 quilômetros em relação ao alvo pretendido'. Pobreza enganosa. O raio de destruição e contaminação de um míssil desse porte pode chegar a 40 quilômetros do ponto de impacto.

A versão já em uso pelas Forças Armadas norte-coreanas é o Taepodong-1, preparado para atingir objetivos estratégicos na Coréia do Sul e no Japão. De acordo com o North Korea Advisory Group, criado pelo presidente George W. Bush, estão em desenvolvimento acelerado na fábrica de Chunggye-tong configurações leves para ser lançadas a partir de plataformas montadas em navios.

O regime de Kim Jong-il sustenta o terceiro maior Exército do planeta, menor apenas que o dos EUA e o da China. Ele reúne 1,6 milhão de homens e mulheres, mais 4,7 milhões na reserva especial, prontos para apresentação em 72 horas.

O país gasta 30% do PIB de US$ 40 bilhões no orçamento da defesa. A força terrestre vai reformar a frota de 3.500 tanques, armados com ca nhões de 125 mm, até novembro de 2007. A China vai fornecer um lote suplementar de 1.500 novos blindados pesados. A aviação militar negocia a compra de 150 novos caças Sukhoi-30, russos, do mesmo modelo vendido para o presidente Hugo Chávez, da Venezuela.