Título: Britânicos negam querer privatizar Amazônia
Autor: Emílio Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Vida&, p. A19

Distorção. Assim o ministro britânico de meio ambiente, David Miliband, classificou a notícia publicada domingo no jornal inglês Daily Telegraph de que o governo da Grã-Bretanha teria interesse em elaborar um fundo internacional para financiar a aquisição de largas porções de terra na Amazônia. A publicação causou mal-estar na delegação brasileira que participa da 2ª Reunião Ministerial do Diálogo de Gleneagles sobre Mudança do Clima, Energia Limpa e Desenvolvimento Sustentável, com a presença de países membros do G8 mais Brasil, China, Índia e África do Sul, em Monterrey, no México.

De acordo com o periódico inglês a intenção do governo britânico seria comprar a floresta e transformá-la num trust internacional. Suas árvores seriam vendidas a grupos e indivíduos - como o multimilionário sueco Johan Eliasch, que, segundo a reportagem, comprou no início do ano mais de 160 mil hectares da floresta por 8 milhões de libras (R$ 32,5 milhões).

Ainda segundo o Daily Telegraph, David Miliband admite que o projeto poderia causar 'problemas de soberania' ao Brasil, em cujo território está a maior parte da Amazônia.

Durante o primeiro dia do encontro, a delegação inglesa não fez nenhum tipo de anúncio sobre a suposta intenção. A delegação brasileira também dizia não saber de nada.

DISTORÇÃO

Finalmente na tarde de ontem, o secretário-executivo do Meio Ambiente, Cláudio Langone, chefe da delegação brasileira, foi procurado informalmente pelo ministro Miliband para desfazer o que chamou de mal-entendido.

O britânico assegurou que a imprensa inglesa distorceu suas idéias e que nunca se falou em privatização da floresta amazônica. 'Conversamos com o ministro, que garantiu se tratar de um mal-entendido', disse Langone ao Estado.

Segundo o secretário brasileiro, Miliband disse defender todas as iniciativas para a redução do desmatamento e emissão de gases que causam o efeito estufa. E reiterou que não faria nenhum tipo de proposta que ferisse a soberania brasileira sobre a Amazônia. 'Não aceitaríamos nada nesse sentido', reforçou o secretário.

Um encontro oficial entre os dois estava marcado para o final da tarde de ontem, em Monterrey. 'O Brasil tem uma proposta de criação de um fundo para os países que consigam diminuir o desmatamento', disse Langone.

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