Título: Mantega quer desenvolvimentismo
Autor: Adriana Chiarini, Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Nacional, p. A15

O desenvolvimentismo será a principal marca de um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A garantia foi dada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que esteve reunido durante três horas com 25 pessoas, entre economistas e acadêmicos, num restaurante em Ipanema, na zona sul do Rio. Segundo ele, Lula é desenvolvimentista, enquanto o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, é conservador.

¿No segundo mandato, o desenvolvimento será mais claro¿, disse o ministro, para quem a política atual ¿já é desenvolvimentista¿. Ele afirmou que a prioridade máxima será acelerar o crescimento e gerar empregos.

Ao contrário do ajuste fiscal mais intenso proposto por Alckmin, num segundo governo Lula ¿não haverá aprofundamento¿ desse ajuste, segundo adiantou Mantega.

Ele esclareceu, ao chegar ao local do encontro, que estava ali ¿como condutor da política econômica do candidato Lula¿ e não como ministro de governo. Ele entrou no restaurante, um dos italianos mais conceituados do Rio, às 13h45 e saiu de lá três horas depois. A conta, em torno de R$ 60 por pessoa, foi paga separadamente por cada um dos participantes.

Mantega garantiu que a política desenvolvimentista não comprometerá a continuidade da geração de um superávit primário de 4,25% e nem o regime de metas de inflação, dois dos pontos-chave de aprovação, pelo mercado financeiro, da política econômica do atual governo. ¿Já restabelecemos o equilíbrio fiscal e não há necessidade de aprofundamento. A prioridade no segundo mandato é o crescimento vigoroso da economia e a geração de empregos¿, disse o ministro. ¿A economia não é um fim, é um meio para atingir um fim social.¿

Ele afirmou ainda que ¿a política monetária será mais flexível, tendo em vista que a inflação está sob controle¿. Segundo Mantega, a tendência é de queda dos juros e aumento do crédito.

O ministro da Fazenda avalia que a realização do segundo turno das eleições ¿está sendo muito produtivo¿, porque mostra que as propostas econômicas dos dois candidatos à Presidência, que pareciam muito semelhantes, são diferentes.

Mantega chegou a citar a possibilidade de privatização da Petrobrás já atribuída ao candidato Alckmin e disse que, na verdade, a discussão se refere ao tamanho que o Estado teria.

¿Tem uma candidatura conservadora que acha que o Estado deve ser mínimo e que o setor privado é mais eficiente do que o setor público¿, afirmou. ¿Nós entendemos que o Estado tem um papel importante no desenvolvimento¿, emendou. Ao citar genericamente os tucanos, afirmou que, por eles, ¿privatiza tudo¿.

MENINO

A economista Maria da Conceição Tavares, um dos principais nomes ligados ao PT no meio acadêmico, falou a contragosto pelos participantes do encontro e, após reclamar muito da imprensa, cobriu Mantega de elogios e disse que só por respeito ao ministro aceitou ir ao evento.

¿Vim por respeito e estima por esse homem, que espero em Deus que continue ministro da Fazenda¿, disse, acrescentando que, ao contrário de muitos dos seus ex-alunos, ¿esse menino nunca traiu esse País¿.