Título: Vendas da indústria interrompem três meses de alta e caem 1,13%
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Economia, p. B1

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê crescimento moderado das vendas do setor em 2006. Os indicadores de agosto, divulgados ontem pela entidade, mostraram que as vendas industriais, que indicam o faturamento real das empresas, interromperam a seqüência de três meses de alta e caíram 1,13% ante julho, descontados os efeitos sazonais.

O economista da CNI Paulo Mol disse que a valorização do real, ao prejudicar as exportações, impediu o crescimento maior do faturamento das indústrias, o que explica, em grande parte, a queda do indicador em agosto. No ano, as vendas tiveram ligeira queda, de 0,08%, em relação aos oito primeiros meses de 2005. Mol lembrou que as exportações representam, em média, 25% do faturamento do setor industrial.

Os números da CNI mostram, ainda, uma dispersão no comportamento da atividade econômica. Por isso, segundo Mol, fica difícil estimar o comportamento da indústria no segundo semestre. Enquanto as vendas caíram em agosto, os indicadores ligados ao ritmo da produção mostraram-se praticamente estáveis.

As horas trabalhadas subiram 0,11% e o nível de emprego, 0,21% ante julho. A utilização da capacidade instalada ficou em 81,5%, só 0,3 ponto porcentual abaixo da de julho, demonstrando não haver risco de pressão sobre a oferta de produtos.

'Esse comportamento surpreende um pouco. Há um processo de descompressão da política monetária (redução de juros), que deveria estar tendo impacto favorável na atividade econômica', avalia o economista chefe da CNI, Flávio Castelo Branco. 'A economia está meio de lado na entrada deste trimestre. Nos últimos dois meses, a economia deu uma certa estabilizada.'

Segundo ele, a grande surpresa positiva este ano é o indicador de empregos, que cresce há nove meses. Mas a CNI ainda não consegue explicar claramente o descompasso entre os dados de emprego e o de horas trabalhadas. O primeiro cresceu 1,6% de janeiro a agosto, enquanto as horas trabalhadas na produção aumentaram 1,05%.

Castelo Branco acredita que pode ter havido maturação de investimentos - que aumentaram a produção, mas não o número de horas trabalhadas - ou a substituição de empregados provisórios ou de horas extras por permanentes.

A CNI espera a intensificação da produção, ainda que moderada, até novembro para atender à maior demanda de fim de ano. Historicamente, o indicador sobe entre agosto e novembro. O impacto no faturamento das indústrias, no entanto, vai depender do comportamento do câmbio até o fim do ano. Castelo Branco acredita que o efeito câmbio será menos intenso no último trimestre porque a base de comparação com o quarto trimestre de 2005 já reflete a valorização do real.

O economista afirmou que o consumo das famílias deve continuar crescendo e sustentando as vendas na indústria. Ele alertou, entretanto, que grande parte do aumento do consumo interno está sendo atendido pelas importações.

'Há uma expectativa de que aumentem as importações para atender à demanda de fim de ano. É razoável esperar que aumente o número de produtos importados nas principais redes de varejo', disse. A previsão da CNI é que o consumo doméstico cresça 4,2% este ano, enquanto o volume das importações deve subir 16,5%.