Título: Garcia: Brasil tem 'tradição golpista'
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Nacional, p. A19

O coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, disse ontem que, apesar de o Brasil ter uma 'tradição golpista', não acredita que prosperem ameaças de impeachment num eventual segundo governo petista porque o povo estaria ao lado de Lula. Apesar da série de investigações de corrupção envolvendo o governo, Garcia afirmou que tentativas de afastamento do presidente seriam como tentar 'ganhar no tapetão'.

'Como no futebol, se ganha no campo, não se ganha no tapetão. Quem está querendo ganhar no tapetão vai se dar muito mal', disse o coordenador, que também é presidente interino do PT. Em entrevista na capital gaúcha, onde prepara a visita de Lula hoje ao Rio Grande do Sul, Garcia afirmou que uma proposta de impeachment não deve prosperar no Congresso.

'Essa hipótese é o sonho de alguns termocéfalos (pessoas de cabeça quente, que não medem as conseqüência do que falam) da oposição. A tradição golpista no Brasil é uma tradição de longa data', afirmou, em entrevista na capital gaúcha. Garcia lembrou casos de tentativas de golpe contra Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. 'Mas, naquelas circunstâncias, havia um elemento que estava um pouco ausente de uma participação mais forte no País, que era o povo brasileiro. Como hoje há um indiscutível alargamento no campo político e no da cidadania no País esse tipo de jogada vai enfrentar dificuldades muito maiores', garantiu.

Garcia disse ainda que, no próximo mandato de Lula - dito como se o presidente já estivesse reeleito - parte da reformulação do PT terá que ser sobre a relação partido-governo, ampliando o papel de mobilização da sociedade. 'O partido tem que ser um fator importante de mobilização em apoio ao governo, mas ter também posição crítica. Temos que ficar mais próximo ao governo.'

O coordenador negou ter informações sobre a possível participação do ex-ministro José Dirceu no episódio da compra do dossiê para tentar incriminar tucanos no escândalo dos sanguessugas. 'Acho um pouco estranho. Parece-me que o José Dirceu tem se dedicado às suas atividades de advogado e ao blog que criou. Mas sendo verdade ou não, o que me parece duvidoso, não altera nossa posição de esclarecer os fatos.'

Garcia lembrou que ofereceu a abertura do sigilo bancário das contas do PT à Justiça e aos promotores que investigam o caso do dossiê e pediu ainda que caia o segredo de justiça da investigação. 'O melhor que se pode fazer é abrir a investigação para que se tenha transparência absoluta, que a imprensa seja informada corretamente, sem vazamentos.'