Título: Rivais usam debate para centrar fogo em Lula, 'o candidato que fugiu'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2006, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se transformou no alvo de todos os seus concorrentes ontem e virou, no dizer de Geraldo Alckmin (PSDB), "o candidato que fugiu", no primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República, na TV Bandeirantes. Lula comunicou à emissora que não compareceria e foi representado no estúdio por uma cadeira vazia.

A concorrente do PSOL, senadora Heloísa Helena, criticou insistentemente a ausência do presidente. "É a arrogância de pensar que é o maior - e não é", disse, citando "a roubalheira de seu governo". José Maria Eymael (PSDC) ironizou: "Acho estranho a gente questionar a ausência de Lula. Ele não viu nada, não soube de nada, vai ver não soube do debate."

Alckmin denunciou ontem o que chamou de "terrorismo político eleitoral", que estaria sendo praticado no Brasil pelo crime organizado. "Na Colômbia, começaram pela política e foram para o crime; no Brasil, começaram pelo crime para vir para a política", disse no debate da TV Bandeirantes. Ele questionou a lógica dos últimos ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo: "Ladrão não ganha nada dando tiros na polícia e em posto de gasolina. Querem influir no resultado da eleição."

O presidente foi acusado pelo tucano de se omitir na questão da segurança pública, mas acabou questionado por Heloísa, ao responder a uma pergunta sobre a crise paulista. Alckmin prometeu liderar uma cruzada contra o crime a partir do dia 1º de janeiro, se for eleito, mas Heloísa acusou PT e PSDB de errarem juntos.

O candidato do PDT, Cristovam Buarque, perguntou a Antônio Bivar (PSL) se o brasileiro se decepcionou mais com a perda da Copa do Mundo de futebol ou com o governo Lula. "Futebol, pelo menos, a gente tem de quatro em quatro anos", ironizou Bivar. Cristovam rebateu: "O governo Lula provocou várias decepções, mas a maior é deixar aquela cadeira vazia" - e apontou para a cadeira ao lado. O pedetista disse que a ausência de Lula no debate era "falta de respeito" com o eleitor.

BOLSA

Alckmin, que é médico, perguntou a Heloísa, que é enfermeira: "O candidato que fugiu ao debate disse há dias que a saúde está chegando ao limite da perfeição. O que a senhora acha?" Heloísa respondeu que, se eleita, destinaria "dinheiro limpo, não para comprar mensalão ou sanguessugas, mas para aplicar em saúde". Ela disse que o dinheiro para seus projetos virá dos juros e do fim da corrupção. "Não vou fingir que não vi roubar."

Cristovam disse que ninguém vai perder o dinheiro do Bolsa-Família, mas prometeu lutar para dar trabalho às pessoas. "A pessoa pensa assim: eu recebo esse dinheiro porque sou pobre. Se sair da pobreza, perco esse dinheiro", disse. Alckmin lembrou que o Bolsa-Família é a junção de programas sociais criados no governo FHC e afirmou que vai manter o Bolsa-Família, mas lutar para gerar empregos.

REFORMA AGRÁRIA

Alckmin disse defender a reforma agrária, mas repudiou invasões de terra: "Comigo, invadiu, vai desinvadir", disse. "Vou fazer a reforma agrária", bradou Heloísa, garantindo que, com ela no governo, não haverá violência no campo. Segundo ela, os governos FHC e Lula promoveram uma "favelização rural". Prometeu assentar 1 milhão de famílias, mas garantiu que vai respeitar o agronegócio.

Já Alckmin disse que o agronegócio será uma estratégia importante para criar trabalho e renda. Afirmou que vai implantar o seguro de safra e melhorar a questão sanitária, além de diminuir os juros para o campo e cuidar da infra-estrutura.

Heloísa atacou os governos Fernando Henrique e Lula por não terem feito a reforma tributária. "É inaceitável a continuação da Desvinculação das Receitas da União, que saqueia o dinheiro da saúde, da educação e dos aposentados para pagar juros." Alckmin, por sua vez, defendeu o ajuste fiscal.

Com seu estilo agressivo, Heloísa disse que, se chegar à Presidência, só dois setores terão algo a perder: "os banqueiros e os políticos corruptos". Garantiu que vai mandar fazer auditorias nas contas dos dois governos - FHC e Lula.