Título: Crédito tributário dobra lucro do BB
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2006, Economia, p. B5

O Banco do Brasil registrou, na primeira metade de 2006, o maior lucro líquido semestral de sua história: R$ 3,9 bilhões. O resultado foi maior do que o obtido pelos principais bancos privados do País, como Bradesco (R$ 3,132 bilhões) e Itaú (R$ 2,958 bilhões).

O lucro líquido de janeiro a junho de 2006 supera em 96,5% o resultado do mesmo período de 2005, que foi de R$ 1,979 bilhão. Só o Tesouro Nacional, acionista majoritário da instituição, com 70,9% do capital do banco, vai receber R$ 1,1 bilhão. Outros R$ 500 milhões serão distribuídos entre os demais acionistas.

O presidente do BB, Rossano Maranhão Pinto, reconheceu que parte do lucro líquido da instituição deveu-se a receitas extraordinárias. No primeiro trimestre, o Banco do Brasil pôde incrementar seu resultado com a incorporação de créditos tributários de R$ 1,5 bilhão.

No segundo trimestre, o lucro foi engordado pelo acordo com a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do banco. Os sindicatos que tinham entrado na Justiça contra a paridade (contribuição idêntica para a patrocinadora e associados) desistiram da ação. Com isso, o superávit da Previ em 2000 pode, finalmente, ser dividido meio a meio com a patrocinadora. Cerca de R$ 880 milhões entraram nos cofres do BB.

Maranhão ressaltou, no entanto, que, mesmo sem as receitas extraordinárias, o lucro da instituição estaria no mesmo nível dos demais bancos. O resultado seria de R$ 2,9 bilhões graças, sobretudo, à elevação da base de clientes e ao aumento da carteira de crédito. Em 12 meses, o BB agregou 1,8 milhão de novos clientes - 800 mil no primeiro semestre.

O saldo das operações de crédito, incluindo as da área externa, atingiu em junho R$ 113,1 bilhões, com crescimento de 17,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Entre as operações de crédito que mais cresceram, o presidente do BB destacou as operações com pessoas físicas que, em junho, alcançaram um saldo de R$ 20,5 bilhões, com crescimento de 22,4% em relação a dezembro de 2005.

Dentro das operações com pessoas físicas, a modalidade de crédito que mais se destaca é o consignado, com crescimento da carteira de 136,1% em 12 meses e de 58,5% no semestre. O crédito consignado no Banco do Brasil alcançou, em junho, saldo de R$ 6 bilhões.

Por outro lado, a crise na agricultura, provocada pelas secas no Sul do País e pela queda do dólar ante o real, que reduziu a renda no campo, forçaram o BB a elevar em R$ 1,4 bilhão a provisão para créditos de liquidação duvidosa. Com isso, o nível de provisionamento saltou de R$ 2,483 bilhões no primeiro semestre de 2005 para R$ 4,056 bilhões no primeiro semestre deste ano.

INADIMPLÊNCIA Apesar do aumento da inadimplência do setor rural, o BB vem conseguindo melhorar seu desempenho na concessão de crédito. O nível de inadimplência da instituição, que já foi cerca de 5 pontos porcentuais acima dos de mercado, se equipara ao dos demais bancos.

Segundo os dados divulgados ontem, o índice de inadimplência das operações vencidas há mais de 15 dias é de 12,8% na instituição e de 14,2% no sistema financeiro. Nas operações em atraso há mais de 90 dias o índice de inadimplência é de 6,8% no BB e de 7,2% no sistema financeiro.

Até o fim do ano a Previ, mais uma vez, vai dar uma pequena contribuição para o resultado do Banco do Brasil. Devido ao superávit sucessivo dos últimos três anos, o fundo de pensão resolveu diminuir a contribuição dos funcionários e patrocinadora em 40%. Para o BB, é uma economia de R$ 180 milhões no ano.

Para o futuro, o Banco do Brasil pretende aumentar seus lucros ao entrar num nicho importante - o do financiamento imobiliário. "O crédito imobiliário é importante para a fidelização da clientela", disse Maranhão. Ele explicou que não se trata de competir com a Caixa Econômica Federal, mas que é um produto em falta na prateleira do BB. "Precisamos dispor dos mesmos instrumentos dos concorrentes."