Título: Jungmann defende convocação de mais um petista pela CPI
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Nacional, p. A5

O vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) defenderam ontem a convocação do deputado petista Carlos Abicalil (MT). Cruzamento feito pela CPI detectou que Abicalil conversou no telefone 29 vezes com dois envolvidos na compra do dossiê Vedoin. As ligações foram feitas entre 22 de agosto e 12 de setembro, período em que foi negociado o dossiê com Darci Vedoin e seu filho, Luiz Antônio Vedoin, donos da Planam, principal empresa da máfia das ambulâncias.

'Temos de convocá-lo para que ele explique essa troca de telefonemas feita precisamente no período mais crítico das negociações de compra do dossiê contra os tucanos', afirmou Jungmann. 'As ligações não são prova do envolvimento do parlamentar, mas elas ocorreram em datas importantes da compra do dossiê', observou o sub-relator Carlos Sampaio (PSDB-SP), responsável pelo cruzamento dos dados. 'Essas ligações são precisamente durante o momento em que o processo do dossiê esteve em curso', enfatizou Gabeira.

A maior parte das ligações foi feita entre Abicalil e Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil e um dos negociadores do dossiê. Entre 22 de agosto e 12 de setembro, os dois se falaram 27 vezes no telefone celular.

No dia 5 de setembro, Abicalil telefonou duas vezes para Valdebran Padilha, um dos petistas presos com o R$ 1,75 milhão que seria usado para a compra do dossiê. Segundo depoimento de Valdebran à Polícia Federal, foi nessa data que ocorreu o segundo encontro entre ele, Expedito, Gedimar Passos - o outro preso preso com o dinheiro - e Darci Vedoin. Na reunião teria sido definido o valor a ser pago, de acordo com Valdebran.

Pelo levantamento feito por Sampaio, no dia 22 de agosto, véspera da primeira de três idas de Expedito a Cuiabá, houve nove ligações. O então diretor do BB ligou seis vezes para o petista e Abicalil telefonou três vezes para Expedito. No dia 24 de agosto, ainda em Cuiabá, ele telefonou cinco vezes para Abicalil. O deputado retornou duas. No dia 25 de agosto, já em Brasília, Expedito ligou uma vez para Abicalil.

No dia 31 de agosto, Expedito ligou duas vezes para Abicalil, no auge das negociações do dossiê. No dia 7 de setembro, data em que foi fechado o acordo para a compra, Expedito ligou uma vez para Abicalil. O deputado telefonou duas vezes para o ex-diretor do BB. No dia 8 de setembro, Expedito ligou uma vez para Abicalil, que retornou duas vezes. No dia 12 de setembro, data em que Expedito estava em Cuiabá para acompanhar a entrevista que Luiz Vedoin daria à revista IstoÉ no dia 13, telefonou uma vez mais para Abicalil.

DEFESA

Em nota divulgada ontem, Abicalil se disse 'surpreendido' com a vinculação de seu nome à negociação do dossiê. Afirmou que até o momento não conhece os dados anunciados de cruzamento da transferência de sigilo telefônico feito pela CPI.

O petista informou que conversou com o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), para solicitar cópia dos dados e antecipou a sua disposição 'para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários'.

Tanto Sampaio quanto Gabeira defenderam também a convocação do presidente licenciado do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que trocou telefonemas com Oswaldo Bargas, que trabalhou na campanha do presidente Lula e é investigado pela Polícia Federal como um dos negociadores do dossiê.

Os dois querem ainda a convocação de Hamilton Lacerda, ex-assessor da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. Na terça-feira, a CPI ouve três dos envolvidos no escândalo do dossiê: Jorge Lorenzetti, que coordenava o setor de inteligência do PT, Valdebran e Gedimar.