Título: Bush faz advertência à Coréia do Norte
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Internacional, p. A12

O presidente americano, George W. Bush, iniciou ontem sua visita de cinco dias à Ásia alertando que há um risco significativo de a Coréia do Norte vender sua tecnologia nuclear ou combustível para bomba atômica a outras nações ou a grupos terroristas. Ele também pediu que os países asiáticos ponham em prática as sanções adotadas pela ONU em 14 de outubro contra o regime de Pyongyang por causa de seu teste nuclear, realizado dias antes.

'Em consideração à paz, é vital que todas as nações desta região enviem uma mensagem à Coréia do Norte de que a proliferação de tecnologia nuclear para regimes hostis ou redes terroristas não será tolerada', afirmou Bush em discurso na Universidade Nacional de Cingapura. Ele disse que haverá 'graves conseqüências' (não especificadas) se a Coréia do Norte for flagrada enviando tecnologia ou armas nucleares ao exterior. 'A transferência de material ou armas nucleares da Coréia do Norte a Estados ou entidades será vista como uma grave ameaça aos EUA e consideraremos a Coréia do Norte totalmente responsável pelas conseqüências de tal ação', advertiu. Bush não mencionou diretamente o Irã, mas estava claro que este era um dos potenciais compradores a quem ele se referia.

Os EUA têm buscado, nos últimos meses, evidências de que a Coréia do Norte esteja tentando ampliar seus acordos com o Irã além da venda de tecnologia de mísseis. Mas a secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse em entrevista recente que não há prova de que os dois países estejam cooperando na área nuclear.

Condoleezza declarou ontem em Hanói, capital do Vietnã, que a Coréia do Norte precisa ir às novas conversações sobre desarmamento preparada para negociar, ou não haverá motivo para realizá-las. 'Depois de terem realizado um teste nuclear, os norte-coreanos precisam fazer algo para demonstrar que estão comprometidos de fato com a desnuclearização', disse Condoleezza. 'Após o teste nuclear, há algum ceticismo sobre isso.' Pyongyang concordou em retomar as conversações com EUA, Coréia do Sul, China, Japão e Rússia, paralisadas há um ano, mas ainda não foi fixada data para o diálogo.

Condoleezza não quis especificar quais passos os EUA e a China estão pressionando Pyongyang a adotar antes da retomada das conversações. Mas funcionários americanos em Hanói - onde chanceleres se reuniram ontem, antes da abertura da cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, pelas iniciais em inglês) - disseram que os passos a que Condoleezza se referia incluiriam o desmantelamento de uma das várias instalações nucleares norte-coreanas e a readmissão de inspetores internacionais. As declarações de Bush e Condoleezza sugerem o quanto a questão norte-coreana deverá dominar a reunião da Apec, da qual os dois participarão no fim de semana.

Funcionários franceses inspecionaram ontem um navio norte-coreano na Ilha de Mayotte, no Oceano Índico. Eles disseram que o navio, que seguia de Cingapura às Ilhas Comores, com escala em Mayotte, transportava cimento. Sanção da ONU prevê a inspeção de navios que entram ou saem do país comunista, para evitar que importe ou exporte tecnologia ou material nuclear.

Ainda ontem, a Coréia do Sul informou que votará a favor de uma resolução da ONU condenando a Coréia do Norte por violações dos direitos humanos. Um alto funcionário norte-coreano advertiu que essa decisão provocará um impacto negativo nas relações intercoreanas.