Título: Conserto em duto reduz volume de gás boliviano para o Brasil
Autor: Nicola Pamplona, Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Economia, p. B7

A estatal boliviana do setor de petróleo YPFB anunciou ontem que reduziu as exportações de gás natural para o Brasil e a Argentina por causa de reparos em um gasoduto que atende os principais campos produtores do país.

As obras estão sendo tocadas pela Petrobrás Bolívia, proprietária do gasoduto, que sofreu avarias durante as fortes chuvas que caíram no sul da Bolívia durante o mês de maio. A expectativa é que as exportações sejam reduzidas em 15%, ou 4 milhões de metros cúbicos por dia.

A Petrobrás já havia previsto o início das obras para o dia 11 deste mês e, em comunicado divulgado no dia 1º, informou que o abastecimento do mercado interno seria assegurado por medidas como a redução do consumo interno da companhia. Nessa primeira fase, informou a empresa, as obras vão durar seis dias. Uma segunda fase, de 11 dias, será iniciada no dia 23 de novembro.

'Após os reparos, o gasoduto retornará às suas condições normais e voltará a operar a plena capacidade, recuperando a confiabilidade do sistema', informou a companhia na nota do início do mês. Até o início da noite de ontem, a empresa não havia se manifestado sobre o comunicado da YPFB.

PLANO DE CONTINGÊNCIA

O gasoduto foi afetado por um deslizamento de terra provocado pelas chuvas em maio. Na época, houve um corte de 20% nas importações bolivianas, o que levou o governo brasileiro a trabalhar em um plano de contingência para o abastecimento do combustível. O racionamento acabou não sendo necessário, uma vez que a Petrobrás realizou um reparo provisório na tubulação, que retomou o fluxo normal.

Segundo a nota da YPFB, a tubulação é responsável pelo escoamento do gás produzido nos campos de San Antonio e Margarita. O primeiro é operado pela Petrobrás e o segundo, pela britânica BG. Ambos vendem gás ao Brasil. A YPFB declarou motivo de 'força maior' para reduzir as exportações.

O gás boliviano é hoje responsável por metade do abastecimento do mercado nacional. Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul são totalmente dependentes do combustível importado. Já São Paulo recebe algum fluxo de gás nacional, produzido na Bacia de Campos.

Nota boliviana causa confusão

O Ministério da Presidência da Bolívia afirmou, em nota divulgada anteontem, que as petroleiras que operam no país não poderão contabilizar em bolsa as reservas bolivianas. A medida contradiz declarações recentes do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, para quem a contabilização seria possível mesmo após a assinatura dos contratos de concessão. As companhias querem anotar como suas as reservas que operam na Bolívia porque estas podem ser usadas como garantia de financiamentos.

A Petrobrás informou ontem, porém, que não contabiliza reservas que opera, nem mesmo as brasileiras. A estatal explica que o que anota em seu balanço é o direito de operar as reservas, que, mesmo no Brasil, pertencem à União. Na época em que explicou o contrato com a Bolívia, Gabrielli disse que a área jurídica da empresa avaliara que, como se trata de um contrato de operação, as reservas podem ser contabilizadas.