Título: OMC acerta retomada de negociações técnicas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Economia, p. B8

Os 150 países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), agora com a participação do recém-admitido Vietnã, decidiram ontem, em Genebra, retomar as negociações da Rodada Doha, que visa a reduzir os entraves ao livre comércio mundial. Os debates foram suspensos em julho.

Por ora, essa tentativa de avanço se dará apenas no nível técnico. Significa que os chefes das comissões temáticas (agricultura, serviços, produtos industriais) poderão convocar o retorno aos trabalhos quando considerarem oportuno.

Ao tomar a decisão de liberar as reuniões técnicas, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, advertiu que as negociações mais importantes, no nível político, não poderão recomeçar sem o compromisso claro das grandes potências de modificar suas propostas de abertura dos seus mercados.

'Hoje, estamos em alguma parte entre as ações diplomáticas discretas dos últimos meses e as negociações formais, que só recomeçarão quando os países membros estiverem dispostos a dar cifras às ofertas expressas genericamente', disse Lamy. 'Todos os barcos da nossa frota estavam num dique seco há várias semanas e agora voltamos a nos lançar na água, sem preparação.'

As reuniões, tanto as técnicas quanto as políticas, não ocorrem desde que Pascal Lamy deu por encerradas as tentativas de acordo, em julho. A causa foi a distância entre as propostas da União Européia, dos Estados Unidos e dos países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil. Como nenhum demonstrou disposição de fazer mais concessões, as negociações travaram.

Nos últimos meses, Lamy tem indicado que as negociações poderiam recomeçar em novembro deste ano ou março de 2007. Um dos problemas eram as eleições parlamentares americanas, que acabaram em vitória dos democratas.

SEIS ANOS DEPOIS

As negociações começaram em 2001, em Doha, no Catar, com data de encerramento marcada para o fim de 2004. Seu foco principal é a abertura comercial a serviço do desenvolvimento, com destaque para a redução das desigualdades nos países mais pobres.

O principal obstáculo nas negociações é a recusa dos Estados Unidos e da União Européia de reduzir substancialmente os subsídios que concedem aos seus produtores rurais.

Para os países em desenvolvimento, reunidos no Grupo dos 20 (Brasil, Austrália, Índia, África do Sul e outras nações menores), esses subsídios distorcem o comércio mundial. As nações ricas, por sua vez, consideram tímida a oferta de abertura dos mercados dos países emergentes de serviços e de produtos industriais.

Apesar da suspensão das negociações, depois de julho ocorreram alguns contatos não oficiais entre os principais negociadores da OMC. Um deles ocorreu no Rio de Janeiro, a pedido do Brasil. O outro foi na Austrália. Mas as conversas não avançaram, embora todos tenham demonstrado disposição de buscar soluções.