Título: Relatório aponta Legacy fora da rota e pane na comunicação
Autor: Tânia Monteiro e Bruno Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Metrópole, p. C1

O relatório preliminar da comissão que investiga a maior tragédia da aviação brasileira, a colisão no ar que matou 154 pessoas em 29 de setembro, aponta sucessivas falhas de comunicação entre o centro de controle de Brasília (Cindacta-1) e os pilotos americanos do jato Legacy que se chocou com um Boeing da Gol. Os aviões bateram porque o Legacy estava na contramão, a 37 mil pés de altitude. Mas o Cindacta-1 tentou 7 contatos por rádio com o Legacy. E os americanos tentaram falar com a torre 13 vezes até o acidente.

O Legacy só ouviu o chamado da torre às 16h53. O piloto não conseguiu entender a mensagem, que indicava uma freqüência de rádio para fazer contato. Pediu que a mensagem fosse repetida, mas não foi ouvido pelo Cindacta. Pouco depois, às 16h56, aconteceu o choque.

No texto, o presidente da comissão, coronel Rufino Ferreira, informou que, por sete minutos, os controladores tiveram certeza de que o Legacy estava na contramão. Isso ocorreu entre 15h55, quando o Legacy sobrevoou Brasília a 37 mil pés - naquele ponto, o plano previa 36 mil -, até 16h02, quando o aparelho sumiu do radar secundário, que fornecia a localização exata do jato. A primeira tentativa de alertar os americanos sobre a rota errada, no entanto, só ocorreu 24 minutos depois do sumiço do Legacy. O relatório não aponta a causa do sumiço, mas afirma que vai apurar uma falha no transponder do avião, equipamento que fornece coordenadas aos radares.

O coronel não soube explicar por que os controladores não advertiram os pilotos a tempo de impedir a tragédia. Disse que só deve ouvir o depoimento deles na semana que vem. Os americanos, ouvidos três dias após o acidente, poderão ser novamente procurados pela comissão. O relatório final deve sair em apenas dez meses.

O relatório confirma que o jato decolou de São José dos Campos e deveria seguir até Brasília a 37 mil pés, quando desceria para 36 mil e, depois, no marco aeronáutico Teres, subiria para 38 mil até Manaus. Mas o Legacy permaneceu a 37 mil pés todo o trajeto. Embora não quisesse falar sobre diálogos com o controle de vôo, Rufino admitiu que os termos usados nas conversas com operadores de São José e de Brasília podem ter tido ¿alguma influência¿ no fato de o piloto do Legacy ter ignorado o plano de vôo.

O coronel admitiu ainda que o local onde aconteceu o choque é um ¿ponto de transição¿ entre os centros de controle de Brasília e Manaus. Ele evitou admitir que haja um ¿ponto cego¿ de comunicação na Amazônia, mas disse que ¿em toda área de transição pode ocorrer ponto cego¿. Pelo relatório, ¿possivelmente¿ a asa esquerda do jato atingiu a asa esquerda do Boeing, que iniciou um mergulho até o solo que durou cerca de um minuto.