Título: Pode haver ponto cego no controle aéreo, diz coronel
Autor: Bruno Tavares, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Metrópole, p. C3

O coronel Rufino Ferreira, presidente da comissão de investigação do acidente entre o Legacy e o Boeing da Gol, admitiu ontem que falhas nos sistemas de comunicação em terra também podem ter contribuído para a colisão. Evitando a expressão 'ponto cego', o militar explicou que nas áreas de intersecção entre centros de controle - exatamente onde ocorreu o choque entre as aeronaves - é comum haver panes nos equipamentos. A partir de agora, os peritos da Aeronáutica irão se concentrar na análise dessa e de outras hipóteses.

'A entrevista com os controladores será essencial para esclarecer isso', comentou Ferreira. Segundo ele, os lapsos de comunicação podem ser momentâneos ou não. Para avaliar possíveis panes, os técnicos devem averiguar o alcance dos equipamentos utilizados para controle de tráfego naquela região. Na semana seguinte ao acidente, o avião laboratório da Força Aérea Brasileira (FAB) refez o trajeto percorrido pelas duas aeronaves e não constatou problemas. Outros dois aviões que sobrevoavam a área no dia do acidente - um da TAM e outro da Polar Air -, também não reportaram dificuldades de comunicação na tarde da tragédia, embora ressalvem que isso é comum.

O comandante Alexandre Gomez, de 43 anos, que sobrevoava a selva amazônica no dia 29 de setembro a bordo de um Boeing 747 da Polar Air, afirma que 'há muito eco e barulho' durante os contatos via rádio. Acostumado a voar em diferentes países, Gomez diz que é problema é mais acentuado na área controlada pelo centro de Brasília (Cindacta-1). 'Algumas vezes, procuramos solicitar aos controladores que repitam as ordem três, quatro vezes. É muito difícil entender na primeira', comenta o piloto.

Além de analisar equipamentos, a comissão de investigação anunciou que irá revisar os procedimentos adotados na transição entre centros de controle. 'Procedimentos podem não ter sido realizados, podem ter sido incompletos ou podem até ter sido feitos, mas não foram suficientes. Isso com certeza vai ser avaliado', garantiu Ferreira. O presidente da comissão não soube responder de quem é a responsabilidade por monitorar os vôos no momento de transição de centros de controle. Mas adiantou que, se verificar que algo está errado, irá emitir recomendações de segurança antes mesmo do término das investigações.