Título: Jato ficou 23 minutos sumido
Autor: Bruno Tavares, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Metrópole, p. C3

O jato Legacy voou 23 minutos sem que o controle de vôo de Brasília tivesse qualquer indicação sobre sua posição e altitude. Isso porque ele desapareceu das telas dos radares do Cindacta-1 antes do choque com o Boeing da Gol. Além de sumir do radar secundário, aquele que recebe os dados de altimetria e posição enviados pelo transponder de uma aeronave, o avião fabricado pela Embraer também deixou de ser visto no radar primário, aquele cuja função principal é a defesa área do País.

O primeiro momento em que o controle de vôo ficou sem sinal do Legacy foi às 16h30. Tratou-se de uma perda momentânea de contato do radar primário com o jato, que durou 2 minutos. O retorno do sinal do avião na tela do controle durou seis minutos. Às 16h38, o Legacy desapareceu definitivamente - desde às 16h02, quando seu transponder parou de funcionar, o Legacy não era mais visto pelo radar secundário, usado no controle de tráfego aéreo.

'O radar primário tem um alcance menor do que o secundário, o que pode ter provocado o desaparecimento. Mas, se o piloto estivesse com o transponder ligado, seria detectado sem problema pelo Cindacta-1', afirmou um oficial da Aeronáutica. A função principal do radar primário é localizar aeronaves não identificadas ou inimigas a tempo de ela ser interceptada por caças da Base Aérea de Anápolis (GO).

Às 16h59, três minutos depois do acidente, o Cindacta-4 (Manaus) passou a receber informações do transponder do Legacy no radar secundário com altimetria precisa e o código que lhe havia sido dado pelo controle de vôo. Passaram-se mais três minutos e o mesmo centro de controle verificou que o piloto do jato mudou o código do transponder para indiciar emergência no vôo.

Para oficiais da Aeronáutica, ainda não é possível dizer o que fez o transponder do Legacy deixar de funcionar às 16h02 e voltar a emitir sinais para o radar secundário às 16h59. Sabe-se que se o equipamento estivesse funcionando, o alarma anticolisão do avião dispararia e o choque teria sido evitado.