Título: Diferença de normas será investigada
Autor: Juliano Machado
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Metrópole, p. C4

A diferença de normas de vôo nos Estados Unidos e no resto do mundo, incluindo o Brasil, é um dos pontos que podem ter contribuído para o acidente que resultou na queda do Boeing. Isso porque há uma diferença em uma regra fundamental para esse caso: o que o piloto deve fazer quando perde comunicação com o controle de vôo.

Segundo um oficial da Aeronáutica, no Brasil, onde valem as normas da Organização da Avião Civil Internacional (Icao, da sigla em inglês), um piloto é obrigado a seguir o plano de vôo original depois de 20 minutos sem contato com a torre. No caso dos americanos, que voam segundo as regras da sua Federal Aviation Administration (FAA), o piloto deve manter seu último nível de vôo aprovado. No caso do Legacy, isso significava que o último nível de altitude de vôo era de 37 mil pés, no qual ele voara de São José dos Campos para Brasília.

Esse nível ia colocá-lo na contramão da aerovia depois de passar por Brasília. Isso porque, no trecho que ia da capital federal a Manaus, ele devia voar a 36 mil pés até o Ponto Teres, quando subiria para 38 mil pés. Essas mudanças estavam previstas no plano de vôo do Legacy, apresentado no Aeroporto de São José dos Campos, que autorizara o jato a voar a 37 mil pés até Brasília. O jato e o Cindacta-1 (Brasília) tentaram se comunicar 20 vezes, mas só uma vez a comunicação entre eles foi possível, ainda assim, de forma incompleta.

Como o objetivo da investigação da Aeronáutica é evitar novos acidentes, representantes da Força Aérea devem viajar aos Estados Unidos na próxima semana para conversar com a direção da FAA. O objetivo é repassar informações sobre o sistema brasileiro de vôo para ¿evitar novos mal-entendidos¿ quando pilotos americanos cruzarem o espaço aéreo do País.

Segundo um oficial, é possível que novas regras para a instrução de pilotos americanos que voam em outros países surjam depois do caso da Gol. Outra hipótese é a mudança de normas de controle de vôo e alterações em equipamentos como radares, transponders e rádios.