Título: Risco de anorexia faz agência dar apoio psicológico a modelos
Autor: Natália Zonta, Valéria França
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2006, Metrópole, p. C12

A tirania da fita métrica é uma das faces conhecidas do mundo da moda. Casos extremos como a da modelo Ana Carolina Reston, de 21 anos, que morreu na terça-feira, vítima de anorexia nervosa são exceções e não uma regra no mundo da moda. As estatísticas variam, mas, de acordo com a literatura médica internacional, morrem de 2% a 8% dos pacientes que desenvolvem a doença.

Distúrbios alimentares como anorexia e bulimia são problemas mais próximos da rotina profissional das modelos, fato que levou as maiores agências a tentar aliviar os sintomas provocados pela pressão da carreira, montando uma estrutura de apoio, inclusive médica. Psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas fazem parte do pacote oferecido para que elas não cheguem a quadros extremados como o de Ana.

'A pressão é grande', diz Adriana Ferreira Leite, dona da Elite, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. 'Três de cada dez new faces (as novatas) da agência desistem da profissão porque as exigências são grandes.' A Elite organiza anualmente um concurso nacional. Em média, 50 mil candidatos de 65 cidades do Brasil disputam 24 vagas, ou seja, mais de 2 mil candidatos por vaga. A primeira eliminatória, que descarta a metade, é feita a partir das fotos e de dados, como idade (até 19 anos) e altura (mulheres devem de ter no mínimo 1,70 metro e homens, 1,85 metro). Quem tem 1 centímetro a mais de quadril vê naufragar o sonho de virar uma Gisele Bündchen.

Há a questão da idade. As new faces são muito jovens, têm de 10 a 19 anos. 'A maioria vem de pequenas cidades', diz o pediatra Mauro Fisberg, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 'Moram em apartamentos pequenos com outras concorrentes.' São tantos os casos críticos que pipocam nas agências, que o médico acabou desenvolvendo um projeto especial. A universidade disponibiliza atendimento ambulatorial gratuito às modelos com uma equipe multidisciplinar. Das 1.200 modelos atendidas, segundo a universidade, nenhuma tem aneroxia, mas três de cada dez correm risco de desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar. 'Elas têm um comportamento preocupante. Tomam laxante e pulam refeições ', diz Firsberg.

Como nem sempre as garotas comparecem ao ambulatório da Unifesp, a Ford Models providencia um atendimento domiciliar. 'Toda a semana uma nutricionista vai até o apartamento das modelos ver como anda o cardápio delas', diz Adriana Ogata, diretora do departamento de new face da Ford. 'Nunca trabalhei com meninas esquálidas, com cara de doente', diz Eli Hadid, dono da agência Mega Models, há 25 anos no ramo. 'Nossas modelos têm curvas. Veja Ana Hickmann, por exemplo.'

Ana Carolina era da L'Equipe Agence desde julho de 2005. Na época, a modelo estava no México, sem emprego e com dificuldades financeiras. Ela começou na L'Equipe por intermédio de uma parceira mexicana, Skol Models, que avisou que a modelo estava magérrima. 'Disseram que sua magreza tinha a ver com o período difícil que ela passou lá, sem emprego' , diz Lica Kohlrausch, dona da L'Equipe.

Após três meses, Ana foi enviada ao Japão, mas, num dos primeiros testes, desmaiou. Voltou para o Brasil para ficar com a mãe, Miriam Reston. 'A L'Equipe ofereceu tratamento', diz Geise Strauss, prima de Ana. Mas a modelo não apareceu nas consultas.