Título: Tucano avisa que não aceitará indicações partidárias
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2006, Nacional, p. A4

Não haverá indicações partidárias para o secretariado: os partidos aliados deverão ter posições no governo, mas os nomes serão escolhidos diretamente pelo governador, adiantou ontem José Serra. O futuro secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira Filho, reiterou que Serra não abre mão de escolher pessoalmente todos os principais auxiliares.

Serra pode falar assim: poucos governadores dependerão tão pouco de arranjos partidários para governar sem grandes turbulências. O resultado das eleições para a Assembléia Legislativa paulista mostra que Serra poderá construir uma maioria de 49 deputados (o total é de 94) apenas com os aliados 'confiáveis': os 35 deputados eleitos da coligação PSDB/PFL, os 5 do PPS, os 5 do PDT e os 4 do PTB.

Além destes, Serra terá à sua disposição mais 12 deputados de quatro partidos com pouca expressão na Assembléia: 4 do PMDB, 3 do PR (criado com a fusão de PL e Prona), 2 do PP e 2 do PSC. Cada minibancada destas chegará à Assembléia sem força política para reivindicar postos de governo. Restará a elas se contentar com pequenas atenções ou viver à míngua.

Essa situação cai como uma luva para o estilo que Serra já usou quando esteve em cargos de governo - na gestão Montoro, em São Paulo, nos ministérios do Planejamento e da Saúde, no governo FHC e na Prefeitura de São Paulo. Ele trata os políticos da linha fisiológica a pão e água e lhes dá sempre uma opção-limite: ou pão e água ou nada. Ante o risco de ficarem sem nada, eles geralmente optam pelo pão e água.

Com dez secretários anunciados, Serra já começou a agir assim. Antes que se abra a temporada de caça aos cargos, ele ocupou as pastas que considera estratégicas. Das outras secretarias em aberto, três são de natural indicação pessoal (Casa Militar, Comunicação e Procuradoria), uma (Cultura) será negociada com artistas e intelectuais e uma quarta, Meio Ambiente, poderá ser destinada ao PV (como ele já fizera na prefeitura), que tem preciosos 8 votos na Assembléia. Restam as secretarias para Serra acomodar os aliados 'confiáveis' ainda no sereno - MD (fusão de PPS, PMN e PHS), PTB e PDT.

PULVERIZAÇÃO

Mas a indicação dos secretários estratégicos de Serra já começou a causar desagrados. Um parlamentar do grupo dos aliados 'confiáveis' ironizou o anúncio dos novos secretários, feito ontem por Serra. 'Cadê o secretariado de nível ministerial que ele prometeu?' Por um lado, apesar de Serra reiterar que os nomes anunciados são de sua cota pessoal, aliados 'confiáveis' detectaram uma atenção especial ao PFL.

Efetivamente, o partido teve dois nomes confirmados no anúncio de ontem - Rogério Amato, indicado para Desenvolvimento e Assistência Social, é filiado ao partido, e Maria Lúcia Marcondes, que continuará na Educação, foi uma indicação pessoal do governador Cláudio Lembo. Com a muito provável ida de Afif Domingos para a Secretaria do Trabalho, o PFL já teria garantido três cargos de primeiro escalão.

À MD, Serra deverá oferecer a Secretaria de Ciência e Tecnologia, para a qual o nome mais provável é o do diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique Brito Cruz. Resta um grande dilema: o PTB do deputado Campos Machado, um dos mais ativos articuladores da Assembléia, que apoiou Serra desde o começo da campanha.