Título: Bush espera orientação sobre Iraque
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2006, Internacional, p. A10

O presidente americano, George W. Bush, disse ontem que ainda não decidiu se enviará mais soldados para o Iraque ou se começará a trazer os que estão lá de volta para casa, alegando que está esperando recomendações militares. Bush fez a declaração na Indonésia, um grande aliado dos EUA na luta contra o terror, em meio à revelação de que o Departamento de Defesa dos EUA está fazendo um estudo sobre como melhorar a situação no Iraque.

Segundo o jornal The Washington Post, funcionários de alto escalão do Pentágono revelaram que a revisão secreta apresenta três opções básicas: enviar mais tropas; diminuir o contingente, mas permanecer por mais tempo; ou retirar-se.

Pessoas com acesso ao relatório apelidaram as opções de ¿crescer¿, ¿prolongar¿ e ¿ir para casa¿. Segundo os funcionários, o grupo que conduz a revisão provavelmente recomendará uma combinação entre um aumento pequeno e a curto prazo das tropas dos EUA e um compromisso a longo prazo com o treinamento e o aconselhamento intensificados das forças iraquianas.

O estudo, realizado a pedido do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general Peter Pace, surge num momento em que o aumento da violência motiva a reconsideração da política para o Iraque por parte da Casa Branca e do Grupo de Estudos para o Iraque, comissão bipartidária liderada pelo ex-secretário de Estado James Baker.

A primeira opção, ¿crescer¿, previa originalmente um grande aumento do contingente americano no Iraque. Mas uma campanha clássica de contra-insurgência exigiria mais centenas de milhares de soldados dos EUA e do Iraque, além de policiais iraquianos fortemente armados. A opção foi praticamente rejeitada pelo grupo de estudos, que concluiu que não há forças americanas nem iraquianas efetivas suficientes, disseram fontes. A terceira opção, ¿ir para casa¿, prevê uma rápida retirada das forças americanas. Ela foi rejeitada pelo grupo do Pentágono porque provavelmente mergulharia o Iraque numa guerra civil sangrenta.

O grupo delineou um plano híbrido que combina parte da primeira opção com a segunda - ¿prolongar¿ - e prevê a redução da presença de forças de combate dos EUA em favor de uma expansão a longo prazo dos esforços de treinamento e aconselhamento. Nessa mistura de opções, que ganha apoio entre os militares, a presença americana no Iraque, atualmente de cerca de 140 mil soldados, seria aumentada em 20 mil a 30 mil por um breve período, disseram as fontes.

Segundo elas, o propósito do aumento temporário, mas substancial, seria duplo: fazer o possível para deter a violência sectária e mostrar ao governo e ao público do Iraque que a mudança para a opção ¿prolongar¿, prevendo a eventual redução da presença americana, não é uma forma de retirada disfarçada.

Mesmo assim, há temores de que essa mudança radical dos EUA prejudique mais a posição do governo iraquiano. Sob o plano híbrido, a breve ampliação do contingente dos EUA seria seguida por um plano a longo prazo para reduzir a presença, talvez para 60 mil soldados.

Esse plano poderia sair pela culatra se os iraquianos o vissem como um modo de os EUA abandonarem o Iraque ao estilo ¿moonwalk¿ - ou seja, imitando o famoso passo do cantor Michael Jackson que parece ir para a frente, mas na verdade recua. A fonte disse que o aumento a curto prazo poderia ser realizado com três passos: a prorrogação do tempo de serviço de algumas unidades já presentes no Iraque, o envio de outras unidades antes do planejado e a ativação de algumas unidades da reserva do Exército. O grupo concluiu que essa medida é necessária por temer que a violência esteja minando a credibilidade do governo iraquiano.