Título: Continua impasse na Previdência e Mantega já ataca choque de gestão
Autor: Isabel Sobral, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2006, Economia, p. B1

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ironizou ontem a proposta apresentada pelo consultor Vicente Falconi, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), que aponta uma redução de R$ 50 bilhões nas despesas da Previdência, em quatro anos, apenas com a adoção de medidas de gestão.

'Se forem eficazes, será a descoberta da América', disse Mantega, após reunião da coordenação política com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. Na semana passada, quando falou do encontro de Falconi com Lula e o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, Mantega defendeu as medidas.

Ontem, mudou o tom e reforçou o entendimento da equipe técnica de que há um impasse na definição das medidas para conter o déficit da Previdência, estimado em R$ 41 bilhões neste ano, ante R$ 38 bilhões no ano passado.

Apesar de afirmar que a proposta de Falconi 'é uma prioridade' para o governo, Mantega não descartou a possibilidade de nova reforma nas regras de concessão de aposentadorias, como a elevação da idade mínima. 'Aceito discutir tudo, mas não sei se essa (idade) é uma prioridade.'

Desde que Lula determinou a adoção de medidas para que a economia cresça pelo menos 5% ao ano, as contas da Previdência têm dividido a equipe técnica. De um lado, estão os que defendem uma nova reforma constitucional e seu envio ao Congresso o mais rápido possível para aproveitar o início do segundo mandato, quando o apoio político é maior. De outro, estão os que acreditam que apenas modificações na gestão permitirão cortar até R$ 50 bilhões em gastos em quatro anos.

'Temos de dar um horizonte de longo prazo à Previdência, dando sustentabilidade às despesas. Até para garantir que o aposentado possa receber a aposentadoria no futuro', resumiu o ministro. Ele não quis detalhar as medidas propostas por Falconi, mesmo admitindo que recebeu na sexta-feira passada uma cópia do documento durante uma viagem a São Paulo. 'Ainda preciso estudá-las', comentou.

O ministro da Previdência, Nelson Machado, que se reuniu ontem com Mantega, evitou declarações sobre a proposta. Segundo fontes do governo, basicamente a idéia de Falconi prevê uma revolução na informatização do INSS e da Dataprev, empresa de tecnologia que dá suporte ao instituto.

Há, por parte dos que defendem alterações nas regras, um certo ceticismo em relação ao alcance desse tipo de ação. Eles argumentam que boa parte das dificuldades de gestão do INSS têm a ver com a máquina pública em geral. Portanto, o choque mais eficiente para estancar os gastos excessivos seria mexer na idade mínima da aposentadorias ou até a desvinculação do salário mínimo dos benefícios.

Apesar do tom irônico sobre o estudo, Mantega fez elogios à Falconi, que é PhD em engenharia metalúrgica. 'Ele é uma pessoa de grande gabarito, de grande capacidade de gestão e especialista em reengenharia de gestão', afirmou.

Falconi é velho conhecido de políticos e consultor de grandes grupos nacionais e tido como guru de vários empresários na área de gestão. Recentemente, assessorou o plano de acerto das contas do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e colaborou com o governo FHC.