Título: Saldo externo chega a US$ 11,66 bi
Autor: Fabio Graner, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2006, Economia, p. B6

A conta das transações de comércio e serviços do Brasil com o exterior fechou outubro com saldo positivo de US$ 1,53 bilhão, resultado abaixo do esperado pelo mercado financeiro e pelo próprio Banco Central. O BC esperava superávit de US$ 2,7 bilhões e as estimativas do mercado estavam em US$ 2 bilhões. Mesmo assim, o resultado das transações correntes do balanço de pagamentos foi praticamente duas vezes maior do que o de igual mês de 2005 e estabeleceu um recorde para meses de outubro, na série do BC iniciada em 1947.

No ano, a conta corrente já acumula superávit de US$ 11,66 bilhões, o equivalente a 1,51% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor já está próximo da projeção do BC para o ano, que é de US$ 11,9 bilhões. De janeiro a outubro de 2005, o saldo em conta corrente era positivo em US$ 11,89 bilhões - 1,79% do PIB daquele período. Nos 12 meses até outubro, o superávit é de US$ 13,96 bilhões (1,54% do PIB).

Segundo o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, o resultado abaixo do esperado em outubro ocorreu por causa do desempenho mais fraco da balança comercial, que teve superávit menor em razão da aceleração das importações. 'O fato é que erramos. Isso acontece quando se faz projeções', disse Lopes em tom bem-humorado. Para novembro, ele projeta superávit de US$ 1,7 bilhão.

Outro fator que contribuiu para o resultado da conta corrente ser menor do que apontavam as estimativas foi o saldo negativo maior que o esperado na conta de transportes. Ela apresenta despesas como pagamentos de passagens internacionais e também é fortemente influenciada pela balança comercial. Em outubro, o déficit em transportes foi de US$ 310 milhões, quase o dobro dos US$ 161 milhões no mesmo mês do ano passado.

O crescimento das importações - de US$ 6,22 bilhões em outubro de 2005 para US$ 8,75 bilhões no mês passado - e os problemas da Varig - que a levaram a praticamente sair do mercado de vôos internacionais - têm feito as despesas da conta transporte subir fortemente este ano, de US$ 4,09 bilhões de janeiro a outubro de 2005 para US$ 5,21 bilhões. O déficit nessa conta no mesmo período de comparação subiu de US$ 1,48 bilhão para US$ 2,42 bilhões.

Embora abaixo do esperado, o resultado das contas externas de outubro foi recorde por causa da 'faxina' na dívida externa. A despesa com juros, antes fortemente concentrada naquele mês, foi reduzida e disseminada ao longo do ano. Em outubro, o saldo líquido da conta de juros foi negativo em US$ 840 milhões, ante US$ 1,33 bilhão em outubro de 2005.

INVESTIMENTOS

Enquanto a conta corrente teve desempenho menor do que o esperado em outubro, os investimentos estrangeiros diretos (IED) somaram US$ 1,72 bilhão e superaram as projeções do BC (US$ 1,2 bilhão) e do mercado financeiro (o teto das estimativas era de US$ 1,5 bilhão).

Em novembro, a expectativa é de que o IED fique ainda maior e atinja os US$ 2 bilhões. Até ontem, havia ingressado no País US$ 1,4 bilhão, segundo o chefe do Depec. 'O desempenho de novembro está próximo da média necessária para se chegar à projeção de US$ 18 bilhões de IED para o ano', disse Lopes.