Título: Argentina garante meta fiscal do ano
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Economia, p. B14

O governo do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, está em clima de festa. Até setembro, o país quase atingiu a meta de superávit fiscal primário prevista para 2006. Segundo o Ministério da Economia, o superávit primário acumulado entre janeiro e setembro alcançou 19,096 bilhões de pesos (US$ 6,36 bilhões). O valor equivale a 97,4% da meta fiscal prevista no orçamento nacional para o ano.

O superávit foi alcançado com o crescimento da economia e o aumento persistente da arrecadação tributária (que em setembro cresceu 29% em relação ao mesmo mês do ano passado).

O resultado equivale a 13,1% mais do que o obtido no mesmo período do ano passado. Além disso, é 19,5% mais do que o previsto originalmente pelo governo Kirchner no início do ano. Na ocasião, a estimativa do governo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006 era de 4%. Mas o modesto cálculo foi substancialmente ultrapassado, já que o PIB argentino deste ano, segundo avaliações dos analistas, deve ficar entre 8% e 9%.

Parte do superávit fiscal é destinado a um fundo anticíclico para que o país esteja preparado para enfrentar eventuais e inesperadas crises. O fundo já conta com US$ 1 bilhão.

CONGELAMENTO

Pela primeira vez, a União Industrial Argentina (UIA) queixou-se das constantes pressões do governo para manter o congelamento de preços. O presidente da UIA, Héctor Méndez, expressou ontem a irritação empresarial durante reunião de industriais na cidade de Córdoba. 'O Estado tem de velar para que a inflação não dispare. Mas como presidente de uma entidade empresarial devo dizer que gosto da liberdade de preços', disparou Méndez. Segundo ele, medidas como a do congelamento 'são razoáveis em períodos de inflação, mas um ano (de congelamento) a mais é muito tempo!'.

Méndez referia-se aos acordos arrancados dos empresários por Kirchner desde o final de 2005, que implicam em pactos de um ano - ou mais - de duração, ao longo dos quais o empresariado se compromete a não aumentar os preços. Além disso, o governo está pressionando alguns setores, como o têxtil, para que reduzam em 10% seus preços. Caso contrário, o governo ameaça liberar as importações, medida que aterroriza os empresários.

Há poucos dias, o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, convenceu os empresários de supermercados a renovar por mais um ano, até final de 2007, o congelamento de preços.

Méndez alertou para uma eventual alta salarial, que poderia colocar muitas empresas em xeque. 'Se amanhã houver um aumento salarial, haverá empresas que poderão absorvê-lo, enquanto outras terão de repassá-lo para os preços', afirmou. A Confederação Geral do Trabalho (CGT) está pressionando para que o governo force os empresários a aceitar reajustes generalizados de mais de 14%, ou seja, acima da média inflacionária prevista para o ano que vem, ao redor de 10%.