Título: 'Uribe condenou reféns das Farc à morte', diz mãe de ex-senadora
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Internacional, p. A26

Yolanda Pulecio, mãe da ex-senadora e candidata presidencial Ingrid Betancourt, seqüestrada pelas Farc em fevereiro de 2002, disse ontem que a decisão do governo de Álvaro Uribe de fechar todas as possibilidades de negociar uma troca de 58 reféns por 500 guerrilheiros presos equivale a 'uma condenação à morte para os seqüestrados'. Além de Ingrid, que tem também cidadania francesa, as Farc mantêm em seu poder três cidadãos americanos, um ex-ministro colombiano, seis ex-parlamentares federais, 12 deputados regionais e dezenas de policiais e soldados do Exército. Alguns estão cativos há oito anos.

'O anúncio do governo acabou com a esperança dos parentes dos reféns', disse Yolanda. 'Isso é condenar os seqüestrados à morte', acrescentou.

Sob pressão diplomática de França, Suíça e Espanha, as negociações para uma possível troca de reféns por prisioneiros tiveram no mês passado o maior avanço nos últimos quatro anos. Mas o discurso de ontem de Uribe frustrou os familiares dos reféns.

Presidente da associação de parentes de soldados seqüestrados, Marleny Orejuela, prognosticou que 'o resgate a sangue e fogo será um fracasso total'.

O ministro das Relações Exteriores da França, Philippe Douste-Blazy, fez ontem um apelo a Uribe para que desista dos planos de resgatar militarmente os reféns. Douste-Blazy pediu ainda que o governo de Uribe e as Farc 'renovem o diálogo e evitem que as famílias dos reféns percam a esperança'.

O ministro do Interior, Carlos Holguín, no entanto, advertiu que 'a responsabilidade pela vida dos seqüestrados pertence aos seus seqüestradores'.

O impasse militar na Colômbia - no qual a guerrilha não tem capacidade militar para chegar ao poder nem as forças militares têm como sufocar os rebeldes - remonta a 1964, quando as Farc, hoje com 17 mil homens, foram fundadas. Alguns oficiais colombianos, no entanto, acreditam que o reequipamento e a modernização das tropas governamentais dos últimos anos mudaram esse cenário.

PLANO COLÔMBIA

A ampliação da capacidade militar do Estado colombiano é atribuída ao Plano Colômbia. Elaborado em 2000 pela administração do presidente americano Bill Clinton, converteu o país, na época, no segundo maior beneficiário da ajuda externa dos EUA, atrás apenas de Israel. Entre 2000 e 2005, Washington injetou US$ 4 bilhões na Colômbia. A ajuda se destinaria inicialmente a incentivar programas de combate ao narcotráfico. Após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA e a classificação das Farc como grupo terrorista por Washington, a verba americana passou a ser usada também pelos militares que combatem diretamente a guerrilha.