Título: Bush manterá plano para Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Internacional, p. A31

O presidente americano, George W. Bush, disse ontem que resistirá às pressões de um ano eleitoral para que promova mudanças mais profundas na estratégia militar dos EUA no Iraque, apesar das crescentes dúvidas dos eleitores sobre a correção do atual plano e a angústia dos líderes do Partido Republicano, fortemente ameaçado de perder o controle da Câmara dos Representantes e do Senado nas eleições do dia 7. Mesmo assim, Bush tem mantido uma série de contatos com seus principais assessores militares e de defesa para discutir como enfrentar a intensificação da onda de violência rebelde e sectária no país, que só em outubro já custou a vida de 73 soldados americanos.

Ontem, o presidente conversou por meia hora com o general John Abizaid, que supervisiona as operações militares no Iraque como chefe do Comando Central das Forças Armadas dos EUA.

Hoje, Abizaid deve apresentar a situação de momento no Iraque e as opções dos EUA a Bush e seus assessores mais próximos: o vice-presidente Dick Cheney, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld e outros funcionários de alto nível vinculados à polícia de segurança nacional do governo.

'Nossa meta no Iraque é clara e imutável', disse Bush ontem num discurso para correligionários republicanos em Washington - denunciando a retórica de 'dúvida e derrota' de membros da oposição democrata que defendem mudanças na condução do conflito pelos EUA.

Ao mesmo tempo, porém, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, assegurava que Bush 'está aberto a fazer ajustes' para corrigir as falhas de segurança em Bagdá. Mas desvinculou essas medidas da campanha eleitoral americana. 'Razões políticas não vencem conflitos', declarou Snow.

'O presidente está sempre ouvindo seus comandantes militares e assessores políticos sobre as táticas de que necessitamos para vencer no Iraque e no Afeganistão', disse outra porta-voz do governo, Dana Perino.

A eleição americana é apontada por analistas como um dos fatores para o crescimento da violência no Iraque - ao lado do aprofundamento do ódio sectário entre xiitas e sunitas e do mês sagrado islâmico do Ramadã, explorado pelos radicais muçulmanos. Segundo esses especialistas, os grupos extremistas se esforçam para produzir imagens de violência - disseminadas pelos meios de comunicação - e tentar influenciar a opinião pública às vésperas da eleição nos EUA.

A exploração da mídia por parte dos extremistas levou Bush a aceitar uma perigosa comparação entre a campanha no Iraque e a Guerra do Vietnã. Na terça-feira, o articulista Thomas Friedman, do jornal The New York Times, afirmou que a situação no Iraque tinha semelhanças com a Ofensiva de Tet, lançada em janeiro de 1968, quando os comunistas do Vietnã do Norte empreenderam por seis meses uma série de combates com as forças americanas. Os soldados dos EUA e seus aliados sul-vietnamitas venceram esses combates, mas a duração e a violência da ofensiva levaram o então presidente Lyndon Johnson, democrata, a abandonar os planos de disputar a reeleição.

Instado durante uma entrevista à rede americana de TV NBC a responder se concordava com a opinião do articulista de que havia semelhanças entre os dois conflitos, Bush declarou: 'Pode ser que ele (Friedman) esteja correto.'