Título: Brasil será dos mais afetados por aquecimento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Vida&, p. A38

O mundo - especialmente o Mediterrâneo, o Brasil e o oeste dos Estados Unidos - sofrerá com secas mais longas, chuvas mais fortes e ondas de calor prolongadas no próximo século por causa do aquecimento global, segundo um estudo feito por um órgão de pesquisa do governo americano. A análise também indica que o inverno pode ficar mais gelado e longo.

O trabalho, divulgado por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos, será publicado em dezembro na revista especializada Climatic Change. Ele é uma prévia do que o Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC), órgão ligado à ONU, deve anunciar no ano que vem. O grupo detalha o que nove dos modelos climáticos mais avançados do mundo predizem como situação extrema.

¿Será uma loucura, especialmente em regiões específicas¿, diz a autora principal da pesquisa, Claudia Tebaldi. As três regiões serão ¿pontos quentes¿ com possibilidade de chegar a extremos. Trabalhos anteriores, inclusive do brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam que o aquecimento vai secar a Amazônia.

PIOR CENÁRIO

Outro autor do estudo americano, Gerald Meehl, indica que, à medida que o mundo aquecer, o nível pluviométrico vai aumentar na região tropical do Oceano Pacífico. Segundo os modelos, a chuva nesse ponto mudará a corrente de ar em algumas áreas do planeta, num movimento semelhante às oscilações causadas pelo El Niño. No Mediterrâneo, o efeito será causado pela chuva no Atlântico.

¿Eventos extremos mostram os maiores impactos, não apenas em humanos mas também em mamíferos e ecossistemas¿, diz Meehl. Segundo ele, o estudo fornece ¿evidências mais fortes e convincentes de que essas mudanças são prováveis de acontecer¿.

O trabalho se baseia em dez índices acordados internacionalmente como adequados para medir eventos extremos. Cinco deles estão ligados à temperatura e cinco à precipitação.

Ele leva em consideração um quadro em que os gases que provocam o efeito estufa continuam a se acumular na atmosfera. Com isso, a radiação emitida pelo Sol ficará presa na Terra, o que esquentará o planeta.

O aquecimento vai alterar o sistema climático. As mudanças variam de acordo com a temperatura média global atingida. O IPCC, em seu último relatório, indica que ela será de 1,4°C a 5,8°C maior do que hoje pelo ano de 2100. O próximo documento deve corrigir a temperatura para de 2°C a 4,5°C.

Um acordo global, o Protocolo de Kyoto, visa reduzir a emissão de gases do efeito estufa para minimizar o problema. Contudo, os Estados Unidos, os maiores emissores do mundo, não seguem o tratado.