Título: Dossiê põe PF e CPI em rota de colisão
Autor: Vera Rosa e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Nacional, p. A4

A seis dias da eleição, o nervosismo da campanha contamina os bastidores da investigação sobre a origem da bolada de R$ 1,75 milhão que seria usada por petistas para comprar o dossiê Vedoin contra tucanos. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, quer entrar agora com mandado de segurança contra a Polícia Federal, alegando obstrução dos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito.

Jungmann disse que até hoje a CPI não teve acesso a 'nenhuma folha' do relatório parcial do inquérito preparado pela PF sobre a trama envolvendo a tentativa de compra do dossiê. Reclamou, ainda, que o documento vazou para a imprensa sem que os integrantes da comissão tivessem conhecimento da papelada.

'A pergunta que não quer calar é: a quem interessa que essa CPI não chegue aos mandantes do crime, aos responsáveis?', indagou o deputado. 'Estamos diante de uma situação absurda, de um caso de obstrução das investigações.'

O vice-presidente da CPI estranhou o comportamento do juiz Jefferson Scheinneder - responsável pelo inquérito sobre o dossiê - , que não repassou o relatório preliminar à comissão. Mas culpou mesmo a PF por não enviar diretamente as informações. Disse que o vazamento foi 'seletivo', omitindo trechos importantes da apuração, como transcrições de conversas telefônicas e cruzamento dos dados obtidos com quebra de sigilo bancário.

Apoiador do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, Jungmann negou que sua sugestão de entrar com mandado de segurança contra a PF tenha ligação com a campanha eleitoral. 'Aqui não há preocupação se o culpado é A ou B. Acho que é interesse de todos, do presidente Lula e do candidato Alckmin, que tudo seja esclarecido antes do segundo turno, para que não pairem dúvidas', comentou. O deputado admitiu, porém, que há 'desdobramento e implicação política em relação a todos esses fatos'.

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, disse não ver motivo para a queixa de Jungmann. 'Não vou polemizar com o deputado para não entrar nesse jogo de campanha eleitoral', reagiu. 'Ele, melhor do que ninguém, sabe perfeitamente que a CPI dos Sanguessugas tem tido acesso a todas as investigações. A atuação da PF é de Estado, republicana e transparente.'

Na tentativa de pôr panos quentes na polêmica, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), sub-relator de sistematização da CPI, afirmou que não é necessário entrar com mandado de segurança contra a PF. 'O mais fácil é irmos a Cuiabá para pedir o relatório diretamente ao juiz', disse. 'O mandado de segurança é uma medida extremada.' O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ)concordou com o colega tucano: 'É difícil haver uma resposta sobre a origem do dinheiro antes do segundo turno.'

O relatório da PF aponta o petista Jorge Lorenzetti, ex-coordenador do setor de inteligência da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como responsável pela operação de compra do dossiê. Negociado por Luiz Antônio Vedoin, um dos donos da empresa que vendia ambulâncias superfaturadas, o dossiê conteria informações contra José Serra, hoje governador eleito de São Paulo, e Geraldo Alckmin. O rastreamento telefônico autorizado pela Justiça também revelou telefonemas do chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, para Lorenzetti e dele para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.