Título: Corrupção é comandada de dentro do Palácio do Planalto, diz Alckmin
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Nacional, p. A6

Na reta final da campanha o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou que a corrupção no Brasil é comandada de dentro do Palácio do Planalto e que seu adversário, o presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não tem compromisso com a verdade. 'Não posso imaginar que alguém que é presidente da República não tenha o menor compromisso com a verdade. É um governo em que a corrupção é comandada de dentro do palácio e ninguém vê', disse o tucano em entrevista ao programa Roda Viva, que foi exibido ontem à noite.

O presidenciável tucano admitiu ter ficado 'surpreso' com a boataria espalhada pelo próprio Lula e pelo PT de que, se eleito, o tucano acabaria com o Bolsa Família e privatizaria empresas estatais. Alckmin falou em 'jogo sujo, mentira e falsidade'. 'O próprio Lula falou, em entrevista gravada, que eu ia privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e a Petrobrás. Que eu ia acabar com a Bolsa Família e com a Zona Franca de Manaus. É mentira, mentira, mentira.'

Alckmin voltou a comentar os escândalos de corrupção do governo de seu oponente e anotou que o que veio à tona até agora é apenas 'a ponta da iceberg'. O tucano também salientou a má qualidade da gestão do governo do PT. E ironizou: 'Se quiserem, a gente assume o governo. Eles não têm competência para governar.'

Apesar da desvantagem nas pesquisas, Alckmin demonstrou convicção de que a eleição ainda não está decidida. Resultado à parte, disse que o PT não pode esperar da oposição trégua em relação à impunidade. 'Querer que a oposição seja conivente com a impunidade, não. Aí não pode.'

Depois da gravação da entrevista para o programa da TV Cultura, no final da tarde, Alckmin afirmou em conversa com jornalistas que Lula voltou a 'usar salto 15' ao anotar que o adversário já entrou no clima de 'já ganhou'.

'No primeiro turno foi a mesma coisa. Agora, de novo o salto 15. Eu vou com as sandálias da humildade', afirmou o tucano.

Prometeu, se eleito, trabalhar para unir o País e disse que o papel de quem ganha é governar e de quem perde, fiscalizar. A seguir os principais trechos da entrevista.

CORTE DE GASTOS

É preciso reduzir a carga tributária. A receita atual é aumentar gastos correntes e impostos e cortar investimento, aí o Brasil não cresce. E o meu adversário já disse que não tem gasto para cortar, e nem vai cortar gasto. Eu vou reduzir para valer. Vou cortar corrupção, que dá US$ 3, 5 bilhões. O Brasil precisa ter 34 ministérios? Quarenta mil cargos de confiança? Corrupção? Eu não vou cortar na área social. Vou fazer a área social melhor.

APOSENTADOS

Governar é escolher. O Lula deu R$ 9 bilhões para um fundo de pensão de estatal e para o aposentado do INSS ele disse 'não tenho dinheiro'. Eu não vou fazer isso. Eu daria o dinheiro para os aposentados.

PRIVATIZAÇÕES

A privatização feita foi correta. Veja o caso da telefonia. Telefone tinha que entrar na fila, levava quatro anos. Hoje, 90 milhões de pessoas têm telefones celulares, mais 40 milhões com telefones fixos. É uma campanha de jogo sujo, mentira, falsidade. Enganando o povo. O que o próprio Lula falou que eu ia privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e a Petrobrás. Que eu ia acabar com a Bolsa-Família, a Zona Franca de Manaus. Mentira, mentira, mentira. Não posso imaginar que alguém que é presidente da República não tenha o menor compromisso com a verdade. É um governo em que a corrupção é comandada de dentro do palácio e ninguém vê. Nem a velhinha de Taubaté acredita.

PCC

Não tem um líder do PCC que não esteja atrás das grades. O que o governo federal, o Lula fez? Cortou pela metade o fundo de segurança, o fundo penitenciário. Só discurso. Omissão total do governo. O que o governo Lula fez foi violar sigilo do caseiro. (Os ataques do PCC) têm relação com a eleição. No Brasil o crime está vindo para a política. Não estou dizendo que o partido está ligado. É uma guerra de opinião pública.

PESQUISAS

Ninguém dizia que ia ter segundo turno. O que vale é o dia 29. Se fosse pesquisa, Jacques Wagner (PT) não tinha sido eleito governador da Bahia. A campanha está muito volúvel, muito tensa. A diferença hoje é de um dígito. Não tem 20 pontos de diferença. Eu acredito tranqüilamente que essa eleição não está decidida. As pesquisas estão descalibradas.

CORRUPÇÃO

O que a gente sabe é a ponta do iceberg. Há uma indignação nacional. A imprensa e sociedade não têm conhecimento de tudo.

TERCEIRO TURNO

A eleição é domingo que vem e vamos trabalhar para ganhar a eleição. O PT e o presidente tiveram sua chance foi um descalabro ético, o Brasil não cresce. Deixaram passar uma oportunidade histórica. O que o PT não pode exigir da oposição é impunidade. Querer que a oposição seja conivente não pode.