Título: 'Adversários deveriam pedir a Deus para eu ganhar', afirma Lula
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Nacional, p. A8

A apenas seis dias da eleição e na véspera da realização de mais um debate na televisão, o presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva decidiu retomar o discurso contra as 'elites' do País. Mostrando-se mais uma vez confiante em relação ao resultado das urnas no próximo domingo, Lula aproveitou um comício na capital paulista para ironizar os ataques lançados pela oposição e dizer que seus adversários deveriam rezar por sua permanência no Palácio do Planalto.

'Eu acho, com todo o respeito que eu tenho, que, ao invés de os meus adversários ficarem com tanta raiva de mim, ao invés de eles ficarem com tanta bronca de mim, eles deveriam pedir a Deus para que eu ganhasse, porque eu ia deixar o Brasil muito melhor no nosso próximo governo', disse Lula, em um discurso de cerca de 20 minutos para centenas de pessoas que estiveram em Cidade Tiradentes, um dos redutos do PT na cidade.

Ressaltando que não poderia falar muito para não 'ficar com a voz rouca' no debate de hoje, na TV Record, Lula prometeu que continuará trabalhando pelos pobres, que segundo ele são os que mais precisam do Estado. 'Eu tenho consciência de que um presidente precisa governar o Brasil para 190 milhões de habitantes, e não para 35 milhões ou 40 milhões como habitualmente se governava este país.'

Sobre um carro de som, ao lado de artistas populares como o apresentador de televisão Netinho e o cantor e deputado eleito Frank Aguiar, Lula rebateu as declarações de oposicionistas de que estaria dividindo o País entre ricos e pobres. Em tom indignado, disse se tratar de uma invenção de seus adversários. 'Eles inventaram: 'o Lula quer dividir o País entre ricos e pobres'. Eu não quero dividir coisa nenhuma. Eu já nasci pobre', disse. 'Eles é que dividiram. Porque se dependesse de mim, a gente não teria pobre ou rico. Só rico.'

Segundo Lula, 'a verdade nua e crua é que o programa político das elites brasileiras' nunca incluiu a população pobre, que só teria importância para este grupo em véspera de eleição. 'Em ano eleitoral, pobre vale mais que banqueiro. Mas depois das eleições pobre não é convidado nem para tomar um cafezinho', disse, acrescentando que seu governo 'incomoda' por trabalhar pela mudança.

Agradecendo mais uma vez a Deus pela realização do segundo turno - apesar de admitir que inicialmente ficou 'chateado' com a notícia -, Lula disse que o povo está 'sentindo a diferença' entre seu projeto de governo e o do rival tucano, Geraldo Alckmin. 'De um lado, um projeto que só tem por interesse atender os interesses de uma pequena elite. E, do outro, nosso projeto, que quer governar para todos.' Além disso, Lula aproveitou para retomar o tema das privatizações, alimentando a idéia de que Alckmin poderá colocar à venda estatais como Petrobrás e o Banco do Brasil. 'Eu não tenho duas caras. Nós não vamos privatizar nenhuma empresa neste país', garantiu.

Em uma das alfinetadas que deu no adversário, Lula se inspirou no presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que o acompanhou no comício. Apenas alguns minutos antes de o presidente discursar, Aldo afirmou que Alckmin parecia um 'personagem da propaganda daquele Itaú Personnalité (serviço para clientes exclusivos do Banco Itaú)', que quando reúne seu público parece um encontro de um 'grupo de tênis'. No embalo, mas sem citar o nome de Alckmin, o presidente insistiu em que o Brasil 'é um país de todos'. 'Este não é um país de jogador de tênis apenas ', afirmou.

Lula aproveitou para angariar o apoio de artistas, compensando em parte o fato de a nova legislação eleitoral proibir a realização de showmícios. Tanto Frank Aguiar como Netinho ganharam a oportunidade de manifestar seu apoio no encontro. Aplaudido pela multidão, Netinho disse que a eleição atual é um 'divisor de águas'. 'Eu venho aqui apenas para conscientizar, para não deixar sair de foco quem não é gente da gente', disse. Aguiar, por sua vez, agradeceu a Deus, ao afirmar que 'um novo mundo, uma nova história está acontecendo'.

No comício também estavam os ministros Luiz Marinho (Trabalho), Celso Amorim (Relações Exteriores) e Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), além da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e da primeira-dama Marisa Letícia.

Enquanto seus acompanhantes discursavam, Lula passou o tempo todo abraçado com Marisa, que nos últimos dias foi às ruas em busca de votos pela reeleição do marido. Quando narrava sua trajetória desde que chegou a São Paulo, Lula lembrou que foi no Estado que conheceu sua 'galega', o que levou a militância a gritar o nome da primeira-dama. Em tom de brincadeira, Lula avisou: 'Não encham muito a bola, não, porque depois quem paga o pato sou eu.'