Título: Forças americanas negociam anistia com rebeldes iraquianos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Internacional, p. A10

As forças americanas estão negociando secretamente uma anistia com os rebeldes sunitas no Iraque para tentar conter a nascente guerra civil e abrir caminho para o desarmamento das milícias xiitas, informou o jornal britânico The Times. Essa reversão de política ocorre em meio à dramática escalada da violência no Iraque, onde chegou a 83 o número de militares dos EUA mortos este mês - o mais sangrento do ano para os americanos - e a média de civis iraquianos mortos diariamente subiu de 27 para 43 (ler ao lado).

Segundo um político sunita citado pelo Times, a proposta de anistia está sendo negociada entre os militares dos EUA - que sempre bloquearam tentativas de perdoar insurgentes envolvidos na morte de americanos - e os rebeldes sem envolver diretamente o governo. A revelação coincide com a declaração de um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Alberto Fernandez, de que o governo americano está disposto a conversar com qualquer grupo iraquiano, exceto a Al-Qaeda no Iraque, para encerrar a violência. Em entrevista em árabe concedida sábado à TV Al-Jazira, do Catar, Fernandez causou polêmica ao afirmar também que os EUA agiram de forma 'arrogante' no Iraque.

Ontem, Fernandez divulgou um pedido de desculpas por meio do Departamento de Estado: 'Após ler a transcrição de minha aparição na Al-Jazira, percebi que eu seriamente falei de modo inadequado ao usar a frase 'tem havido arrogância e estupidez' dos EUA no Iraque', disse Fernandez. 'Isso não representa meu ponto de vista nem do Departamento de Estado', disse Fernandez, acrescentando 'peço desculpas.

Segundo tradução da Reuters para o inglês, o diplomata disse em árabe: 'Tentamos fazer o melhor, mas acho que há muitos motivos para críticas pois, sem dúvida, houve arrogância e estupidez dos EUA no Iraque.' Inicialmente, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que as declarações de Fernandez, cuja versão em inglês foi divulgada inicialmente no site da Al-Jazira, tinham sido citadas erroneamente.

Com o agravamento do conflito, crescem as pressões de democratas e republicanos para que Washington transfira maiores responsabilidades de segurança ao governo iraquiano a fim de abrir caminho para a retirada militar americana. Importantes políticos republicanos pediram mudanças imediatas de tática, antes mesmo das eleições legislativas do dia 7 - nas quais o Partido Republicano, do presidente George W. Bush, pode perder a maioria na Câmara e no Senado. 'Não acho que uma mudança de tática deva esperar até depois da eleição', disse o republicano Arlen Specter, chefe do Comitê de Justiça do Senado. Democratas também pediram que as mudanças sejam anunciadas antes das eleições e o senador Carl Levin disse que as estratégias deveriam incluir um prazo para a retirada das forças americanas.

Segundo funcionários americanos citados ontem pelo New York Times, a administração Bush está preparando um cronograma com prazos para que o governo iraquiano desarme as milícias e garanta a segurança no país. A Casa Branca qualificou de 'imprecisa' essa versão, mas ressaltou que o governo 'está sempre desenvolvendo novas táticas para alcançar seu objetivo'. Algumas fontes chegaram a falar num prazo de um ano para o desarmamento das milícias.