Título: Promessa: analfabetismo zero
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2006, Nacional, p. A16

Uma "grande virada na educação" para acabar o analfabetismo no País em quatro anos é a saída mais eficiente e mais barata, sustenta o candidato Cristovam Buarque, para o Brasil superar a crise atual, seu atraso em relação às economias mais desenvolvidas. Vendida como a razão de ser de sua candidatura, essa virada prevê um papel central da União para dar qualidade ao ensino fundamental e médio. O Brasil, diz ele, "tem de crescer não somente exportando soja, mas exportando chips".

Para isso, é essencial "mudar o eixo das prioridades". Cristovam argumenta que o País "esbarrou no seu projeto civilizatório": nos últimos 30 anos o mundo se dividiu em dois blocos - as nações adiantadas, que modernizaram sua educação, e as outras. "Nós nos orgulhamos hoje de ter só 5% de crianças fora da escola. Os outros já têm 100% dos jovens no ensino médio", comparou. Para pular para o outro lado do muro, ele propõe, entre outras medidas, igualar o salário dos professores do ensino fundamental em todo o País, criar um padrão moderno de equipamentos em todas as escolas. "Se os professores ganhassem R$ 1 mil, o custo seria de R$ 7 bilhões", calcula. "Daria só 1% da atual arrecadação de tributos." Na Presidência, ele diz que começaria implantando um sistema de horário integral em mil cidades do País - lembra que já fez isso em 29 cidades, quando governou o Distrito Federal. Depois, iria estendendo o projeto aos poucos. Em 15 anos, por suas contas, o Brasil poderia equiparar-se à Coréia do Sul.

Dinheiro não falta, garante o candidato. "Por que o Congresso precisa de R$ 5 bilhões (em seu orçamento anual)? E o Judiciário precisa dos atuais R$ 15 bilhões? E o R$ 1,7 bilhão que é gasto com publicidade?" Outra comparação: o aumento dos funcionários públicos custou R$ 6,4 bilhões ao governo, mas a Petrobrás conseguiu R$ 9 bilhões para seu fundo de pensão. Diante da queixa de que o aumento dos professores desencadearia outras reivindicações, cobrou: "Por que não se falou disso quando equalizaram os salários do pessoal da Infraero? Por que não, também, quando deram o aumento ao pessoal da Petrobrás? Por que só cobram da educação?"

Cristovam também classificou a progressão continuada nas escolas de "um crime contra a educação". E avisou que, se eleito, voltará a exigir que beneficiados do Bolsa-Família freqüentem escola. Cobrado por ser "o candidato de uma nota só", no caso a educação, ele respondeu: "Pelo menos eu tenho uma. Qual é a nota dos adversários?"