Título: Em Pouso Alegre, suposto laranja indicado pelo PSDB mentiu à PF
Autor: Fausto Macedo, Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Nacional, p. A9

É falsa a história do homem que declarou à Polícia Federal ter entregue R$ 250 mil a Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do senador paulista Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista. A informação foi divulgada ontem em Cuiabá pelo delegado Daniel Lorenz, superintendente da PF em Mato Grosso, que investiga a operação de compra do dossiê Vedoin por petistas. O falso acusador foi levado à PF por intermédio da jornalista Roseli Pantaleão, que é secretária-executiva do PSDB de Pouso Alegre.

Aguinaldo Henrique Delino, que se apresentou como funcionário de uma empresa de eventos no sul de Minas, disse na quinta-feira à PF que seu patrão, a quem identificou como Luís Armando Silvestre Ramos, lhe havia pedido que emprestasse sua conta bancária para receber um depósito.

Segundo seu depoimento, dias depois o patrão e ele foram à agência do Bradesco em Pouso Alegre e sacaram os R$ 250 mil. Em seguida, viajaram para São Paulo e, nas imediações do Hotel Ibis Congonhas, entregaram o dinheiro a um homem que estava acompanhado de um segurança. Esse homem seria Hamilton Lacerda, segundo ele afirmou à PF.

Foi no Ibis Congonhas que em 15 de setembro a PF prendeu os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$ 1,75 milhão que seria usado para comprar o dossiê com denúncias contra tucanos. Lacerda foi flagrado no dia anterior pelo circuito de TV do hotel com uma mala e a PF acredita que ele levava dinheiro para os dois.

Os federais acreditavam estar no caminho certo da identificação de mais uma parte dos reais apreendidos.

Mas era tudo mentira.

O homem que se identificou como Aguinaldo Delino e fez as denúncias contra os petistas é na verdade o próprio Luís Armando Silvestre Ramos. Ele usou o documento de Aguinaldo Henrique Delino - que havia trabalhado para ele e perdido seus documentos.

'Ele induziu a PF em erro. É tudo furado', admitiu o delegado Lorenz. A PF abriu inquérito por crime de falso testemunho e de uso de documentos falsos e pediu a prisão de Ramos.

Ontem os agentes da PF passaram o dia à procura do falso acusador, sem sucesso. Os policiais também buscaram saber se há alguma relação do PSDB com a divulgação da denúncia.

Antes de depor à PF, Ramos gravou um vídeo apresentando-se como Delino, onde conta a história. O material foi gravado por ele no Jornal do Estado, de Pouso Alegre, há 20 dias. O jornal não o divulgou antes, pois cobrava do acusador provas. Quem levou a gravação aos policiais anteontem foi Roseli Pantaleão, do site local TV Uai, que soube da história quarta-feira.

A intermediação levantou suspeitas da PF porque Roseli é dirigente do PSDB em Pouso Alegre. Os agentes passaram a buscar alguma relação política de Ramos com tucanos.

Em entrevista ontem ao Estado, Roseli negou que tenha participado da divulgação da fita por interesse eleitoral. 'Fui procurada pelo proprietário do Jornal do Estado para que eu ajudasse com a denúncia que eles haviam recebido. Vi a fita e decidi que deveríamos acionar a PF. Desde o início avisei que era do PSDB e estava fazendo aquilo como jornalista', explicou. De fato, foi a jornalista que procurou os delegados da PF envolvidos no caso para contar que havia uma gravação com acusações a petistas. Mas Roseli disse que tomou a iniciativa por entender que aquilo poderia colocar em risco a vida do acusador.

O presidente do PSDB de Pouso Alegre, Samir Bechara, negou qualquer relação do partido com a denúncia. 'Fiquei sabendo do caso só ontem (anteontem) pela imprensa', disse.

CONTRADIÇÃO

O depoimento do suposto Delino foi convincente até uma etapa. Quando o delegado Daniel Daher, da PF em Varginha, pediu-lhe que o acompanhasse ao banco para verificar o extrato da movimentação, ele começou a cair em contradição. Disse que esquecera o cartão do banco. O gerente da agência Bradesco de Pouso Alegre afirmou também aos federais que não houve 'registros atípicos' durante todo o mês que antecedeu a operação da PF que interceptou a venda do dossiê.

A descoberta da farsa irritou a PF, que há três dias estava mobilizada na apuração. A PF ainda não sabe se Ramos foi manipulado por alguém. 'Se ele estava brincando com a polícia deve saber que fez uma brincadeira pesada', disse Lorenz.