Título: Tucano critica Biscaia por lacrar papéis até segunda
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Nacional, p. A18

A determinação do presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), de manter lacrados até segunda-feira, trancados no cofre da comissão, dados sobre a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos na tentativa de compra do dossiê contra políticos tucanos foi apontada ontem pelo sub-relator de Sistematização, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), como mais uma prova de que Biscaia quer impedir que a investigação comprometa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da eleição de amanhã.

Os documentos chegaram à comissão quinta-feira à noite. Foram encaminhados pela Polícia Federal depois de Sampaio e de o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), acusarem a cúpula da instituição de sonegar informações para atender aos interesses do governo.

O sub-relator afirma que, se tivessem acesso aos dados, ele e os técnicos da comissão teriam condições de identificar quem falou com quem no período em que a trama do dossiê foi armada. 'Tudo isso demonstra que ele (Biscaia) realmente não quer que a verdade venha à luz antes da eleição', criticou Sampaio.

Para o deputado, o procedimento é típico de quem quer favorecer o Palácio do Planalto. 'Não é possível impedir que se trabalhe para mostrar ao Brasil a verdade sobre a origem deste dinheiro. Biscaia não tem o direito de fazer isso com o País', condenou. Procurado pelo Estado, o presidente da CPI não retornou a ligação. Ele tentou se reeleger e não conseguiu, ficando como primeiro suplente da bancada do PT.

Segundo Carlos Sampaio, Biscaia 'era um no primeiro turno da eleição, mas passou a ser outro agora'. 'No primeiro turno, ele aplaudia o fato de eu trabalhar sábado e domingo para apurar o nome dos parlamentares envolvidos no esquema sanguessuga', afirmou. 'No segundo turno, ele critica quando quero descobrir quem são as pessoas do governo envolvidas no escândalo do dossiê.'

O sub-relator criticou, ainda, a insistência de Biscaia em afirmar que a oposição quer partidarizar as investigações. 'Ele confunde minha vontade de trabalhar com partidarização e não se dá conta que partidarização é o fato de ele comparecer à comissão', afirmou. 'Ele vem na segunda-feira e volta na terça-feira e, agora que nós temos provas, adota uma conduta atípica, impedindo o acesso aos documentos.'

Depois de anunciar que entraria com um mandado de segurança contra o delegado responsável pelas investigações da compra do dossiê, Diógenes Curado, o deputado Jungmann recuou depois da chegada dos documentos.

Ele lembrou que foi necessário pressionar o delegado para que a CPI tivesse acesso aos dados. Além das escutas telefônicas, Jungmann disse que a comissão também recebeu as imagens feitas pelas câmaras de segurança do Hotel Ibis, em São Paulo, onde o dossiê seria negociado, dia 15 de setembro, quando foram presos os petistas com R$ 1,75 milhão que seria usado para pagar o dossiê.