Título: PT avisa que não abre mão de áreas que detêm informações estratégicas
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2006, Nacional, p. A4

Mesmo sabendo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai tirar espaço do PT no governo, o partido não admite abrir mão de áreas que considera essenciais para a legenda nos próximos quatro anos. São, principalmente, setores que detêm informações estratégicas e sensíveis, como os ministérios que ficam no Palácio do Planalto, e cargos que tratam de altíssimos interesses petistas, que já estavam aparelhados nos governos anteriores, a exemplo da direção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), ambos subordinados ao Ministério do Trabalho, comandado pela ala sindicalista do PT.

Os ministérios que têm sede no Palácio do Planalto são tidos como estratégicos porque seus ocupantes estão o tempo todo ao lado do presidente da República e, por isso mesmo, têm mais condições de dar palpites na administração e saber, antes dos outros, o que vai acontecer com seus colegas na Esplanada dos Ministérios. Um ex-ministro lembrou que, há dois anos, quando queria saber a respeito do futuro de sua pasta ligava para o então ministro das Relações Institucionais Aldo Rebelo (PC do B-SP).

O PT já tem até o discurso pronto para combater argumentos dos que defenderem a chamada 'despetização' do governo. 'Concordamos com o governo de coalizão, entendemos que é importante, mas a hegemonia tem de ser do PT, porque o governo deve ser de esquerda e o PT é hegemônico na esquerda', afirmou o deputado eleito Jilmar Tatto (SP), terceiro vice-presidente do partido.

Os departamentos de inteligência dos bancos oficiais, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, também têm mobilizado os petistas - que defendem a manutenção desses cargos nas mãos de pessoas do partido. Expedito Veloso - um dos suspeitos de ser mentor da compra do dossiê Vedoin para incriminar os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra na máfia dos sanguessugas - era o chefe da inteligência do Banco do Brasil. Também era do PT o setor da Caixa Econômica Federal que violou o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que desmentiu Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, a respeito das constantes visitas feitas a uma mansão em Brasília alugada por antigos colaboradores de Ribeirão Preto.

O partido pretende manter, também, o comando da Controladoria-Geral da União (CGU), que foi entregue, no início do primeiro governo Lula, ao petista Valdir Pires, hoje na Defesa. A CGU é considerada área prioritária porque dispõe de um exército de auditores com autonomia de conduzir investigações nos Estados e municípios. Investigações da CGU, por exemplo, municiaram o PT com dados sobre a máfia dos sanguessugas contra prefeitos tucanos e a gestão do ex-ministro da Saúde Barjas Negri.

O PT não conseguiu nomear no primeiro governo de Lula o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Mas de forma indireta exerce influência sobre o órgão que fiscaliza todas as operações bancárias superiores a R$ 100 mil. Quer manter esse poder. Comanda a resistência para que não seja transferido do Ministério da Fazenda - pasta que nem cogita ver nas mãos de um não-petista - para o da Justiça.

O BNDES é outro setor que o PT reluta em entregar, caso o presidente Lula o reserve para algum partido aliado. No início do primeiro governo, o presidente convidou para a presidência do BNDES o economista Carlos Lessa, ligado ao PMDB. Mas as decisões finais só eram tomadas depois da aprovação do PT. No momento, o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), trabalha para nomear o presidente da instituição. O PT tenta atrapalhar.