Título: EUA acusam Brasil de usar trabalho escravo no ferro-gusa
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2006, Economia, p. B13

O Congresso americano vai investigar o uso de trabalho escravo na produção de ferro-gusa brasileiro exportado para os EUA. As investigações podem levar à suspensão das exportações brasileiras.

Os deputados democratas Eliot Engel, de Nova York, e Dennis Kucinich, de Ohio, vão abrir sindicâncias no Congresso no ano que vem para investigar acusações de trabalho escravo em carvoarias que fornecem para exportadores de ferro-gusa, usado na fabricação de aço. 'Os americanos e o Congresso precisam saber se estão comprando carros e geladeiras produzidos com trabalho escravo', disse Engel ao Estado. 'E as montadoras americanas precisam verificar se estão comprando ferro de fornecedores que usam escravos.'

Engel deve ser o presidente do Subcomitê para o Hemisfério Ocidental do Comitê de Relações Internacionais da Câmara a partir de janeiro, quando os democratas assumem o controle da Câmara.

O porta-voz da divisão de Imigração e Alfândega do Departamento de Segurança Nacional dos EUA, Dean Boyd, afirmou ao Estado que existe uma investigação em curso sobre uso de trabalho escravo para produzir bens exportados pelo Brasil. 'Estamos trabalhando com o governo brasileiro na investigação.' A Lei de Tarifas de 1930 proíbe a importação de produtos fabricados com trabalho escravo.

Empresas como a GM e a Whirlpool estariam comprando ferro-gusa de mineradoras brasileiras que se abastecem de carvão em carvoarias que usam trabalho escravo, segundo a agência Bloomberg, que cita a Cia. Siderúrgica do Pará.

'Há muitos indícios de que parte do ferro-gusa brasileiro é produzido com trabalho escravo e é importado pelos EUA', disse Kucinich à Bloomberg. 'É a pior faceta da globalização.'

A Sociedade Americana das Fundições, que reúne companhias fabricantes de produtos de aço, afirmou que vai romper os contratos com fornecedores brasileiros que usam trabalho escravo. A organização enviou uma carta à embaixada do Brasil em Washington no dia 20 de outubro questionando o uso de trabalho escravo. A embaixada mandou uma resposta citando os esforços do governo brasileiro para combater o trabalho escravo, incluindo parcerias com ONGs como o Instituto Carvão Cidadão e o Instituto Ethos.

Analistas temem que a gestão democrata no Congresso seja marcada por uma volta do protecionismo, restrição de importações e vetos a tratados comerciais. E as investigações, originadas a partir de uma reportagem da Bloomberg, podem estar sendo estimuladas por concorrentes americanos de empresas brasileiras.