Título: Indiciado pela PF, Humberto Costa vai ao palanque de Lula
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2006, Nacional, p. A8

"Democracia não é só coisa limpa não." A frase foi dita ontem à noite, em comício em Caruaru, no agreste pernambucano, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao se referir às acusações contra ele e seus ex-ministros Humberto Costa (PT), da Saúde, e Eduardo Campos (PSB), da Ciência e Tecnologia, ambos candidatos ao governo.

Ao dar apoio a Costa, indiciado pela Polícia Federal na Operação Vampiro, que apura superfaturamento de produtos hemoderivados na Saúde, Lula confundiu-se e usou a palavra sanguessuga, a investigação sobre venda superfaturada de ambulâncias. "Sou testemunha de que este companheiro (apontando para Costa) mandou carta à PF pedindo para investigar o sanguessuga. Não se preocupe, você vai ter o tempo necessário para poder provar a lisura do seu comportamento", afirmou.

"De qualquer forma, isto faz parte da democracia. Democracia não é só coisa limpa não", prosseguiu. "Democracia às vezes tem dessas coisas que nos causam preocupação, desgosto, mas temos que saber enfrentar, porque vamos derrotá-los não é batendo boca com eles não. É na urna que vamos derrotar os nossos detratores", discursou. "Quem está na tribuna do Senado e da Câmara me acusando não merece que eu perca o meu tempo, não merece."

COMO ELEITO

No comício, cheio de gente, bandeiras e integrantes de federações de trabalhadores rurais de vários Estados, Lula falou como eleito, brincou e prometeu voltar ao agreste e visitar um shopping center financiado pelo Banco do Brasil em Santa Cruz do Capibaribe. Bruno Maranhão, líder do Movimento de Libertação dos Sem-Terra(MLST) não subiu ao palanque, mas estava presente e levou uma grande faixa: "MLST presente, Lula presidente". Ele foi indiciado pela polícia pela invasão e depredação da Câmara em junho.

Lula elogiou Costa e Campos, que estão empatados tecnicamente em segundo lugar - o líder é o governador Mendonça Filho (PFL) -, mas dividem o palanque do presidente e evitam trocar acusações. "Humberto e Eduardo estão separados porque tem uma coisa chamada cláusula de barreira que impede que estejam juntos", disse.

E voltou a falar dos ataques. "Tem gente que na campanha faz um papel imprestável do ponto de vista da formação da sociedade", criticou, sem citar nomes. "Eu mesmo já fui acusado muitas vezes. Mas acho que Deus escreve certo por linhas tortas e a verdade virá à tona. O povo é mais inteligente do que a classe política e vai dando resposta a cada dia, por isso, Humberto, não se deixe perturbar."

Lula alertou que no que resta de campanha o desespero de adversários pode crescer. "Eles podem ser mais agressivos e temos que aceitar o embate político. Mas não podemos levar desaforo para casa, não podemos aceitar o baixo nível da campanha que estão fazendo."