Título: Presidente admite que investiu pouco em ciência
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2006, Nacional, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem que o governo ainda não conseguiu alcançar a meta de investir 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em ciência e tecnologia. E como vem fazendo em conversas com outros setores, renovou para o próximo governo, se for reeleito, as promessas feitas na campanha de 2002: garantiu que destinará mais verbas para a construção de centros de pesquisa e a concessão de bolsas. "Sabemos que é preciso colocar mais dinheiro em ciência e tecnologia, fazer mais universidades, investir mais no ensino técnico e melhorar o ensino fundamental", afirmou.

Apesar de reconhecer que não investiu o prometido, Lula disse, ao abrir a reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, no Planalto, que investirá neste ano R$ 10 bilhões no setor - R$ 4 bilhões a mais que o gasto em 2002, último ano do governo FHC.

A conta do presidente-candidato não bate com o orçamento: o governo não pode investir R$ 10 bilhões só em ciência porque todo a verba de investimentos no Orçamento Geral da União (OGU) para este ano é de R$ 14,7 bilhões (R$ 12 bilhões só para infra-estrutura). E dos R$ R$ 17,5 bilhões de investimentos previstos no orçamento de 2007, R$ 13,5 bilhões são também só para infra-estrutura.

Lula disse que a execução orçamentária do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico passou de R$ 513 milhões em 2003 para R$ 784 milhões em 2005. Reportagem do Estado, publicada na segunda-feira, mostra que o governo Lula seguiu o ritmo do governo FHC: reteve mais dinheiro dos fundos de C&T (R$ 3,2 bilhões) do que liberou (R$ 2,8 bilhões). O investimento em ciência e tecnologia não ultrapassa 1,37% do PIB.

DUPLA PERSONALIDADE

Na conversa com cientistas e ministros, Lula admitiu viver um momento de dupla personalidade: ora é candidato, ora é chefe de governo. Na abertura da reunião, se desculpou em ter de sair antes do encontro para pedir votos em Pernambuco. "Estou aqui como presidente, mas daqui a pouco tenho que viajar como candidato. Essa dupla personalidade que a gente tem que assumir em época de campanha não vai permitir que eu fique até o fim da reunião."