Título: Justiça quebra sigilo telefônico de Palocci
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2006, Nacional, p. A14

A Justiça Federal quebrou o sigilo telefônico do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, no período de 10 a 17 de março de 2006, para descobrir com quem ele se comunicou na semana em que foi violado o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo. Demitido do cargo por causa do escândalo, Palocci foi indiciado pelo crime, junto com seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso.

O Ministério Público entendeu que a quebra do sigilo telefônico de Palocci pode reforçar o rol de provas e assegurar a condenação dos acusados. Indiciado também por prevaricação e violação de sigilo funcional, Palocci pode pegar de dois a oito anos de prisão, mesma pena a que está sujeito Mattoso. Acusado de ter vazado os dados bancários à imprensa, Netto pode pegar de um a três anos de prisão.

O delegado Rodrigo Carneiro Gomes, encarregado do inquérito, pediu à Brasil Telecom que envie os extratos telefônicos de Palocci até sexta-feira e espera concluir seu relatório complementar até o dia 15. Anteontem, em depoimento dado na sua residência, o líder do governo no Senado, Tião Viana (PT-AC), admitiu ter tomado conhecimento de rumores sobre a existência de "uma grande soma de dinheiro estranho" na conta de Nildo.

Viana assegurou, todavia, que não teve participação na violação do sigilo. Ele disse que pelo menos quatro jornalistas o procuraram no Congresso para comentar o assunto. Garantiu que estava em Rio Branco no dia em que a conta foi violada, 16 de março, e ficou sabendo do caso por sua assessoria de imprensa, após a divulgação do extrato do caseiro no site da revista Época. Por falta de provas, a PF não indiciou o senador.

MANSÃO

A ordem judicial alcança só o telefone da residência oficial do ex-ministro. Segundo o delegado, o objetivo não é bisbilhotar vida pessoal ou funcional, mas apurar um crime. Pivô da queda de Palocci, Nildo revelou, em entrevista ao Estado, no dia 14 de março, que o petista era freqüentador de mansão do Lago Sul onde lobistas da República de Ribeirão se reuniam, promoviam festas e partilhavam dinheiro.

As investigações mostraram que, informado da existência de uma alta soma na conta de Nildo, Palocci envolveu vários órgãos numa operação para desmoralizar o caseiro, incluindo a Caixa e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Tentou sem sucesso envolver a PF e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).