Título: Instituto Butantã inaugura centro de vacinas para animais
Autor: Emilio Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2006, Vida&, p. A20

O Instituto Butantã inaugurou ontem o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento de Imunobiológicos Veterinários Rosalvo Guidolin, voltado à produção de vacinas para animais. A construção do laboratório, com recursos estimados em R$ 1,7 milhão, é resultado de uma Parceria Público-Privada (PPP) firmada entre o governo e a empresa de produtos farmacêuticos para animais Ouro Fino, com sede em Cravinhos, no interior de São Paulo.

A iniciativa permitirá a transferência de tecnologia e know-how para que a empresa produza, em sua fábrica no interior do Estado, imunobiológicos para o setor veterinário. Em troca, o instituto receberá royalties sobre os produtos comercializados nesse mercado, que movimenta anualmente US$ 890 milhões em todo o mundo. A primeira vacina resultante do acordo será a anti-rábica, com produção estimada de 24 milhões de doses anuais.

SAÚDE HUMANA

Nessa parceria, a Ouro Fino conta com o instituto de pesquisa para obter uma tecnologia a que não teria acesso, aumentará sua produção e gerará empregos e renda. O Butantã, por sua vez, poderá captar recursos para reinvestir em outras pesquisas de base e aplicadas.

Nos planos da instituição está o uso dos recursos obtidos com os royalties no desenvolvimento de novas vacinas humanas, como a contra a gripe aviária, ainda em fase de estudos, e biofármacos como o surfactante pulmonar natural, obtido de pulmões suínos.

O presidente do instituto, o médico e bioquímico Isaías Raw, destacou a importância do desenvolvimento de vacinas veterinárias. "Para que exista a saúde humana, é muito importante a saúde animal", disse. Essa é uma iniciativa que deve ser seguida por outras instituições de pesquisa, por universidades e, principalmente, pelas empresas privadas. Mas ressaltou que nem sempre é isso o que acontece. "É mais fácil para ele (empresário) buscar no exterior essa tecnologia. No entanto, a cada quatro ou cinco anos, terá que ir lá fora buscar outra vez, pois não aprendeu a desenvolver essa tecnologia."

Raw destacou ainda o déficit de pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologia no setor privado e a falta de investimentos a longo prazo como uma das razões para o baixo crescimento econômico do País e para o desemprego. "O Brasil está produzindo mais mestres e doutores do que a demanda do mercado", disse. "Estamos formando um exército de pessoas que não terão colocação na indústria privada."

ISOLAMENTO

Parcerias desse tipo são vistas como estratégicas pelos pesquisadores, atentos à corrida gerada pelo desenvolvimento do setor biotecnológico. O diretor do Instituto Butantã, Otávio Azevedo Mercadante, acredita que esse é um importante processo para o desenvolvimento da economia. "Hoje já existe o consenso de que as instituições têm que deixar de fazer pesquisa isoladamente", afirmou. Para ele, apesar de haver cientistas de alto padrão no Brasil, a transferência de tecnologia e conhecimento para as empresas não ocorre naturalmente. "A iniciativa privada, principalmente no setor farmacêutico, não desenvolve pesquisas no País."

Mercadante compara o Brasil a outros países emergentes, como a China e a Índia, que investem no desenvolvimento científico e tecnológico. "Estamos no limiar de perder esse salto de conhecimento gerado pela biotecnologia", observou.

Participam do projeto do novo centro, como financiadoras, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).