Título: Medidas são corretas, mas insuficientes, dizem analistas
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2006, Economia, p. B4

O pacote anunciado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um passo importante para reduzir o custo dos empréstimos bancários no Brasil. Mas, na avaliação de especialistas, sozinhas, as medidas não serão capazes de derrubar substancialmente a taxa de juros ao consumidor. Na lista de prioridades que fariam diferença no bolso da população, dizem eles, está a redução do depósito compulsório e da carga tributária.

"As regras vão na direção correta, mas continuaremos com os maiores juros do planeta", afirmou o economista Roberto Troster. Segundo ele, hoje há mais depósitos do sistema financeiro no Banco Central (BC) do que em crédito rural e habitacional, juntos. Troster, que recentemente qualificou a MP do spread de "manobra diversionista", é crítico ferrenho do elevado compulsório no Brasil, de 53% (45% sobre depósitos à vista e 8%, a prazo).

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, também acredita que o recuo do custo do dinheiro no Brasil passa por essas duas medidas. Para ele, no curto prazo, o pacote anunciado não deve ter impacto no mercado. "O processo de implementação do cadastro positivo, por exemplo, é demorado. Além disso, será preciso avaliar se o custo para encerrar e contratar novo crédito vai compensar a troca", explicou.

Para o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, a redução do custo do crédito no Brasil dependerá da contribuição de todos para ter um efeito satisfatório. Por parte das instituições financeiras, diz ele, é preciso reduzir a margem de lucros. Já o cidadão terá de criar a cultura de pesquisar as melhores taxas do mercado e, se necessário, trocar de banco. "Ao governo caberá dar continuidade às medidas e reduzir compulsório e impostos."

Poucos especialistas acreditam que o pacote seja capaz de promover maior competitividade no setor bancário. Para o economista Alberto Borges Matias, do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad) da USP, é preciso entender que o devedor que muda de banco para pegar empréstimo é o mesmo que, hoje, já toma em diferentes instituições e, provavelmente, é inadimplente. "Os bancos não competirão por ele. A oferta por crédito em países desenvolvidos supera 100%. No Brasil, a demanda é maior que 100% e a oferta está em 32%."

O presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Erico Ferreira, tem opinião contrária. "Com o cadastro positivo, todas as instituições terão acesso ao histórico dos clientes e poderão oferecer taxas mais atraentes para o bom pagador. Isso aumentará a concorrência." Mesma opinião tem o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), João Rabêllo. Mas ele afirma que o pacote não terá impacto imediato no mercado.

Em nota, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou que as medidas anunciadas contribuirão para estimular ainda mais a acirrada concorrência entre as instituições. "Sua efetivação dependerá, agora, das subseqüentes resoluções e circulares que regulamentarão as medidas."