Título: Para empresários, proposta é retrocesso
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2006, Economia, p. B7

Distribuidores de combustíveis e pequenos produtores de álcool criticaram a proposta da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de estabelecer contratos de longo prazo para a compra de álcool anidro, que é misturado à gasolina. Em audiência pública realizada ontem na sede da agência, no Rio, empresários classificaram as mudanças como retrocesso aos tempos de controle estatal no setor.

Segundo o superintendente da ANP, Roberto Ardenghy, o objetivo é garantir o suprimento sem grandes oscilações de preços durante a entressafra. "Toda a discussão se resume a definir quem paga a conta do estoque", disse Ardenghy, que reconhece que a proposta onera as distribuidoras, confirmando reclamações do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom).

Para o vice-presidente do Sindicom, Alísio Vaz, a proposta da ANP vai eliminar o poder de barganha das distribuidoras, que serão obrigadas a contratar 70% de sua demanda antecipadamente, sem definir nenhuma obrigação para as usinas.

"E, se os usineiros não quiserem assinar contratos, a distribuidora fica inadimplente?", indagou o diretor do Brasilcom, que reúne distribudoras regionais, Jefferson Abou-Rejaile. Segundo ele, as pequenas empresas terão poucas chances de fazer bons contratos, já que têm menos poder de mercado.

Questão semelhante foi levantada por pequenos produtores de álcool. Segundo eles, as grandes usinas, principalmente paulistas, saem na frente ao negociar os contratos. O presidente do Sindiaçúcar Pernambuco, Renato Augusto Pontes Cunha, disse que a legislação prevê a criação de estoques estratégicos para garantir o abastecimento sem alta de preços, mas nunca saiu do papel.