Título: Safra de más notícias atrapalha presidente
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2006, Nacional, p. A8

A menos de um mês das eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se depara com uma série de notícias negativas na área econômica. O crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, a queda na renda e na oferta de empregos e uma greve na Volks no ABC, reduto eleitoral do PT, diminuíram a empolgação no Palácio do Planalto com o amplo favoritismo de Lula nas pesquisas, embora não chegue a causar preocupação com transferência de votos.

Segundo assessores do governo, nenhuma notícia causou mais constrangimento como a estimativa de corte de funcionários das Casas Bahia, empresa usada como símbolo pelo presidente nos discursos sobre a economia. Em abril, Lula participou da inauguração de um depósito da maior rede de lojas de eletrodomésticos do País, em São Bernardo do Campo.

Num discurso de mais de 20 minutos, à época, o presidente fez uma associação entre o empreendimento do empresário Samuel Klein com a política econômica do governo e o futuro do Brasil. "Estou convencido de que vai acontecer neste país o mesmo que aconteceu nas Casas Bahia", destacou. "Embora não seja presidente das Casas Bahia, seja presidente do Brasil, a minha concepção de tratamento deste país é a concepção que o senhor teve de estabelecer a sua parceria com a parte pobre da população."

Nesta semana, além do resultado inesperado do PIB, Lula foi informado das demissões nas Casas Bahia, que previa oferecer 10 mil novos empregos neste ano e agora estima um corte de 2 mil trabalhadores, e nas montadoras da Volks.

Na reta final do processo eleitoral, as notícias ruins na área econômica viraram munição nas entrevistas dos adversários. "Embora sirva para a oposição, a notícia do PIB pífio não terá efeito eleitoral", avalia o historiador Marco Antonio Villa, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. "A eleição já está decidida e tudo indica que em primeiro turno. O efeito eleitoral parece nulo."

Villa diz que, se fosse em outro momento, as notícias ruins na área econômica seriam "bombásticas" e poderiam mudar o rumo do processo eleitoral. Afinal, avalia, uma notícia "trágica", como o inesperado resultado do PIB, mostrou que as projeções oficiais e de "todos" os consultores estavam erradas.