Título: Dublês reservam espaço para candidato titular
Autor: Bruno Winckler, Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2006, Nacional, p. A15

O ex-presidente Fernando Collor (90-92) apareceu ontem pela primeira vez no horário eleitoral da TV alagoana como candidato ao Senado pelo PRTB. Antes de Collor, o partido lançou dois candidatos à vaga, que renunciaram por irregularidade flagrante e para abrir espaço para o ex-presidente.

A rigor, a vaga do PRTB para disputar o Senado sempre esteve reservada para Collor. Esse é um fenômeno comum em todo o país: candidatos-laranjas são inscritos para guardar o lugar de algum cacique que, dependendo do desenrolar da campanha, pode vir a ser lançado. As trocas são respaldadas por resolução do TSE que permite substituir candidaturas majoritárias (Senado, governos estaduais e Presidência) até 24 horas antes da eleição.

Apesar de a Constituição dizer que os candidatos ao Senado têm de ter idade mínima de 35 anos, o PRTB "lançou" Givaldi Francisco da Silva, de 31 anos, ex-motorista do jornal da família Collor, a A Gazeta de Alagoas. Como o truque foi logo descoberto, o partido foi obrigado a indicar Eraldo Firmino de Oliveira para a vaga ao Senado - enquanto isso, Collor foi vendo que os potenciais adversários, Ronaldo Lessa (PDT) e José Thomaz Nonô (PFL), permitiam uma disputa equilibrada com ele.

Ontem, na TV, Collor disse que depois de tantos anos afastado da política - ele teve os direitos políticos cassados por oito anos - sua candidatura é uma espécie de "desabafo". Encerrou a participação de 50 segundos repetindo um velho bordão, usado na época da tramitação do processo de impeachment: "Não me deixem só".

OUTRAS RESERVAS

No Distrito Federal, a disputa por uma vaga no Senado segue para uma vitória tranqüila de Joaquim Roriz (PMDB), facilitada pelo fato de o PFL ter reservado a vaga do partido para candidaturas inexpressivas. Primeiro, o PFL registrou a candidatura de Ana Christina Kubitschek para o Senado - ela é neta de JK e mulher de Paulo Octávio, vice na chapa puro-sangue do candidato ao governo, José Roberto Arruda (PFL). Christina, como previsto, desistiu e foi substituída por outro "candidato" tão inexpressivo quanto: Marcos Cardoso, amigo de Paulo Octávio. O importante é que o PFL, para não incomodar Roriz, evitou lançar um candidato de peso ao Senado.

Há casos de reservas táticas igualmente no Rio, Tocantins e Pará. Jimmy Sandro Pereira Souza (PSDC) foi trocado, no Rio, pelo analista de sistemas Irvanio dos Santos. Jimmy foi "reforçar" a campanha da mãe e deputada estadual Graça Pereira (PFL), que tenta a terceira legislatura. No Tocantins, também pelo PSDC, saiu o capitão da PM Helder Barros Bitar e entrou Weder Márcio da Silva Santos. O PDT paraense trocou Wilkens Gomes por Julia Braun.