Título: Balança não é vilã do PIB, diz Secex
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2006, Economia, p. B4

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) rebateu ontem as avaliações de que as exportações e as importações pesaram no crescimento raquítico do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de 0,5%. O indicador, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado anteontem, puxou para baixo as estimativas de crescimento da economia neste ano - se antes o governo previa uma taxa de 4% a 5%, o mercado agora não vislumbra mais que 3%. Para a Secex, o comércio exterior não pode ser apontado como o vilão desse novo cenário, embora atravesse uma fase que não contribua para a expansão da economia do País, como em 2004.

Na versão do secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, a argumentação de que as exportações caíram em volume no trimestre, o que sinaliza a redução da produção doméstica de bens, não se reflete totalmente nos dados da balança comercial do ano. Citou como exemplo dois setores. A exportação de material elétrico e eletrônico aumentou 11% em volume, de janeiro a agosto, e 21% em valor, em comparação com igual período de 2005. O segmento de telefones celulares cresceu 4,5% em volume.

Mas Meziat concordou que setores como o de calçados apresentaram quedas nos embarques de 1,4% em valor, e de 8,7% em quantidade. Os móveis tiveram desempenho igualmente insatisfatório, com quedas de 6,4% nas exportações no ano, em valor, e de 11,9%, em volume. No caso dos têxteis, os recuos foram de 1% em valor, e de 2,3% em quantidade.

Todos esses três setores compõem a indústria de transformação, grupo que apresentou declínio na atividade no segundo trimestre, e todos são igualmente intensivos em mão-de-obra.

De maneira geral, Meziat observou que houve aumento de 50,8% no volume das exportações brasileiros entre 2002 e 2005. Os valores embarcados cresceram 30%. De janeiro a julho deste ano, a quantidade cresceu apenas 3,2%, enquanto os valores avançaram 11,5%, em relação a igual período de 2005.

CÂMBIO

A Secex concorda que a taxa de câmbio valorizada tem desanimado especialmente os pequenos e médios exportadores e a atividade tem se concentrado nas corporações de maior porte, que também são grandes importadoras de bens. Tais empresas, ressalva Meziat, são as únicas com capacidade de absorver o custo da valorização cambial.

"Isso é uma fase, mas não uma tendência", afirmou. "Não sei se a atual taxa de câmbio é uma tendência ou uma fase. Mas o governo lançou um pacote que, esperamos, vai melhorar a taxa de câmbio", completou.

Meziat afastou também a possibilidade de um processo de substituição de insumos e bens de consumo nacionais pelas versões importadas terem impactado o crescimento do PIB do segundo trimestre. Segundo ele, mesmo com o aumento ao longo do ano, as importações de bens de consumo continuam a representar pouco no total das compras externas de janeiro a agosto - apenas 12,6%. O aumento de 40,5% em valor, em relação a 2005, não teria tanto peso.