Título: Resultado derruba projeções para juros
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2006, Economia, p. B8

O modesto crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre está jogando as projeções para a taxa Selic no fim do ano para abaixo dos 14% até então esperados. Estimativas levam em conta que o Banco Central (BC) reduzirá a taxa, hoje em 14,25%, para ao redor de 13,5% em dezembro, o que seria um novo recorde desde 1996, quando foi criado o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

O economista da MCM consultores Antonio Madeira avalia que a economia está operando com ociosidade e há espaço para aumentar a produção sem risco de pressão inflacionária. Nesse cenário, o BC teria condições de continuar o processo de queda da Selic porque as indicações são de que o aquecimento da demanda interna pode ser facilmente coberta pela oferta disponível de produtos e serviços.

Até o início desta semana, as estimativas médias do mercado para a Selic no fim do ano estavam em 14%, conforme pesquisa do BC. Esta semana, dois fatos ajudaram a mudar as expectativas. O corte da Selic, na quarta-feira, foi de 0,50 ponto porcentual, de 14,75% para 14,25%. Essa redução superou o corte de 0,25 esperado pelo mercado. O resultado do PIB também acabou saindo abaixo do projetado anteriormente.

No caso da Selic, o mercado, na prática, já imaginava que haveria espaço para corte maior, mas foi conservador, levando em conta a indicação do BC de que teria "maior parcimônia" na política monetária. "Há boa chance de a Selic ir para baixo dos 14%", diz o economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, Eduardo Velho, que estima uma taxa entre 13,5% e 13,75% no último mês do ano.

O coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Ipea, Fábio Giambiagi, também avalia que os juros deverão cair mais do que vinha sendo previsto. "Eu não descartaria uma nova queda de 0,50 ponto na próxima reunião do Copom (em outubro)", comenta. Ele conta que, uma semana atrás, acreditava em 14% no fim do ano, mas agora admite que poderia ficar entre 13,5% e 13,75%.

Giambiagi justifica a expectativa citando o nível de atividade fraco e a inflação baixíssima". A atual taxa de 14,25% já é a menor desde 1996 e, portanto, o nível que começa a ser considerado representaria novo recorde. Caso o cenário se concretize, o País poderia entrar no ano com uma taxa real de juros de um dígito, diz Velho.

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