Título: Diretor da CVM é suspeito de vazar informação
Autor: Daniela Milanese e Márcio Anaya
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2006, Economia, p. B12

Pela primeira vez em 30 anos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) terá de investigar uma suspeita de vazamento de informações envolvendo um de seus membros. O episódio começou com uma troca de mensagens entre o diretor Sérgio Weguelin e um investidor estrangeiro sobre a reestruturação acionária da Telemar, a terceira ação com maior liquidez na Bolsa de Valores de São Paulo. O diretor foi afastado temporariamente e o caso deixou a autarquia, responsável pelo combate ao uso de informação privilegiada no mercado, numa situação delicada.

Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esquivou-se de comentar o fato, alegando ainda não ter tido tempo para "se debruçar sobre a questão". A CVM é uma autarquia vinculada a seu ministério. "Recebi as informações tarde da noite de ontem. Vou me pronunciar depois que tomar pé da situação."

A troca de mensagens veio à tona durante investigação da CVM sobre o crescimento atípico - de mais de 200% - nas negociações de empréstimo de ações ordinárias da Telemar no dia 17 de agosto, data em que a companhia telefônica anunciou mudanças em sua reestruturação acionária e véspera da divulgação de um parecer de orientação da CVM que afeta diretamente a operação.

No dia 25 de agosto, os diretores da autarquia Maria Helena Santana e Pedro Marcilio começaram a investigar as transações. No dia 29, os cinco membros do colegiado - o que inclui Trindade, Weguelin e Wladimir Castelo Branco - se reuniram na sede da autarquia, no Rio de Janeiro, para tratar do caso. Menos de uma hora após o término da reunião, o diretor afastado informou o presidente sobre os e-mails.

A situação provocou tanto desconforto que o presidente da CVM. Marcelo Trindade, tomou a iniciativa de abrir as informações do caso numa carta pública. Na nota, ele diz que até agora não há "qualquer indício concreto de que o investidor estrangeiro destinatário da mensagem de e-mail tenha se aproveitado (da informação)". Segundo fontes de mercado, a corretora Hedging-Griffo foi responsável por mais da metade dos negócios com aluguel de ações ordinárias da Telemar no dia 17 de agosto.

A área da corretora responsável por operações de aluguel seria de responsabilidade do sócio e diretor, Luis Stuhlberger - que também é diretor da Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec). Procurado, Stuhlberger não retornou os telefonemas. O presidente da entidade, Luiz Fernando Figueiredo, não quis comentar os rumores de envolvimento de investidores ligados à Amec no caso. E se limitou a defender uma investigação rigorosa das suspeitas de vazamento de informação.

Na troca de mensagens com o investidor estrangeiro, Weguelin era cobrado sobre uma atitude mais dura da autarquia na operação da Telemar e respondia que a CVM estudava a divulgação de um parecer de orientação, fato que se confirmou no dia seguinte.

A suspeita de vazamento de informações ocorre no momento que a CVM colhia a repercussão positiva sobre sua decisão no caso Telemar. A reestruturação societária da empresa está sendo contestada pelos acionistas minoritários. O fundo que trocou mensagens com Weguelin também engrossa o coro dos que se sentiram prejudicados pela companhia. As repercussões positivas da medida chegaram à imprensa estrangeira. O The Wall Street Journal escreveu que o parecer "aumenta consideravelmente a proteção a acionistas minoritários".