Título: Para Lula, Serra vomita preconceito contra o NE
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2006, Nacional, p. A5

Para 6 mil pessoas que foram vê-lo ontem no Pombal Santo Antonio, bairro de Osasco, na Grande São Paulo, o presidente Lula acusou José Serra (PSDB) de "vomitar preconceito", cobrou "um pouco de sensibilidade" do tucano Geraldo Alckmin, seu rival direto nas eleições, criticou o PSDB e o PFL e até cobriu de ironias o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), seu carrasco no Congresso, que no auge da crise política o ameaçou de agressão. "Podem provocar, podem baixar o nível da campanha o quanto quiserem", bradou Lula. "Podem colocar quantas denúncias quiserem na TV, eu não moverei uma palha. Porque vocês moverão o paiol inteiro contra eles."

Lula pediu votos para dois senadores do seu partido que com ele dividiram o palanque, Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo de São Paulo, e Eduardo Suplicy, que busca a reeleição ao Senado. Mas deu as costas para o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) quando militantes gritaram o nome do mensaleiro absolvido pela Câmara. Lula não citou João Paulo e logo foi embora.

Durou cerca de 50 minutos o comício do presidente-candidato, sob um céu às vezes ensolarado, às vezes chuvoso. Ele não mencionou os nomes de seus adversários, como de hábito, mas a eles se referiu claramente, por diversas vezes. Apontando para Serra, derrotado por ele em 2002, Lula discursou. "O preconceito é uma doença. Eu não posso admitir que ainda possa existir gente no maior Estado da Federação, no Estado mais rico, gente que possa ir a um programa de TV e vomitar preconceito contra o povo nordestino que tanto ajudou a construir esse país e essa cidade."

Logo depois, voltou a mirar o ex-prefeito que deixou o cargo com pouco mais de um ano de mandato porque almeja o Palácio dos Bandeirantes. "Se vocês elegerem alguém que já está pensando em 2010, esse alguém pode não governar direito."

Ao desabafar contra "o desrespeito, o preconceito e os desaforos que enfrentou", ele disse que seu consolo é que não respondeu a nenhuma provocação e ofensa. Nesse instante, o alvo foi Arthur Virgílio. "Sabem por que eu não retruquei nem mesmo aqueles que ousaram dizer que iam bater em mim? Porque eu sabia que o povo brasileiro iria dar a resposta que eu deveria dar. O senador que um dia disse que ia bater em mim é candidato a governador no Amazonas. Tenho 72% de voto no Estado dele. Ele tem apenas 3%."

Para falar de Alckmin, ele mexeu na ferida que tanto incomoda o tucano. "Estão em regime de internamento na Febem 6,7 mil adolescentes. Se quem governou São Paulo ou se quem governou o Brasil antes de mim tivesse um pouco de sensibilidade... Qualquer um de nós pode governar esse país com mais competência do que eles."