Título: Governo do Líbano promete punir quem atacar Israel e violar trégua
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2006, Internacional, p. A8

O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, advertiu ontem que as Forças Armadas devem se preparar "para uma segunda ofensiva" contra o Hezbollah, ao mesmo tempo em que o primeiro-ministro, Ehud Olmert, anunciou a formação de uma comissão para avaliar o desempenho dos militares israelenses durante as operações lançadas contra o Líbano a partir de 12 de julho - depois que a guerrilha xiita cruzou a fronteira entre os dois países, matou três soldados israelenses e capturou outros dois. "Temos de examinar nossas falhas na última ação porque precisamos estar prontos para o próximo round", disse Peretz na reunião semanal do gabinete. Olmert também pediu que a Itália assuma a liderança da força internacional que apoiará o Exército libanês no esforço de conter o Hezbollah.

Durante a reunião, o Shin Beth - serviço de inteligência interno - apresentou um relatório segundo o qual a Faixa de Gaza se converterá num novo Líbano entre três e cinco anos. "Se não contermos o Hamas (grupo fundamentalista que lidera a Autoridade Palestina), enfrentaremos em pouco tempo na Faixa de Gaza uma situação parecida com a do Líbano", diz o relatório. AP E REUTERS

O ministro da Defesa libanês, Elias Murr, garantiu ontem que o Líbano punirá severamente qualquer grupo do país que viole a frágil trégua com Israel, que vigora desde o dia 14. "A resistência (o grupo xiita libanês Hezbollah) se comprometeu a não disparar foguetes. Então, se algum foguete for disparado do território libanês, isso deverá ser considerado colaboração com Israel, pois daria um pretexto para que eles nos ataquem", declarou Murr, numa entrevista coletiva, em Beirute. "Assim, qualquer disparo será tratado com a maior severidade, como um ato de traição, e seus autores serão presos e levados à corte marcial."

A declaração - a mais dura dirigida pelo governo ao Hezbollah desde o início do conflito - se deu um dia depois de comandos israelenses terem realizado novos ataques no Líbano, no que o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, qualificou de grave violação da trégua. O Exército israelense justificou a ação, alegando que os ataques foram necessários para evitar que Irã e Síria reabastecessem os milicianos do Hezbollah com armas e munição.

Segundo o Exército israelense, um de seus soldados foi morto na operação. Autoridades libanesas informaram a morte de três membros do Hezbollah.

Em reação à ofensiva, Murr disse no sábado que a quebra do cessar-fogo poderia levar o Líbano a rever a disposição de reposicionar seu Exército no sul do país para, ao lado de forças internacionais, conter as ações do Hezbollah. Ontem, no entanto, ele reiterou que o governo libanês atenderá à Resolução 1.701 do Conselho de Segurança da ONU, que estabeleceu a trégua e prevê a presença do Exército libanês nas proximidades da fronteira com Israel, área hoje controlada pela guerrilha xiita.

Sobre o desarmamento do Hezbollah, Murr afirmou que "quando o Exército estiver bem equipado e puder defender o país", os combatentes xiitas não se oporão a ceder o controle da área. Murr também negou que as armas do Hezbollah sejam iranianas ou sírias e afirmou que "são libanesas".

O primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, muçulmano sunita, visitou ontem as áreas xiitas destruídas no sul de Beirute e qualificou a devastação causada pelos ataques israelenses de "crimes contra a humanidade".