Título: Argentina retoma energia nuclear
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2006, Economia, p. B3

O Ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, anunciou que o governo do presidente Néstor Kirchner retomará a construção da terceira usina nuclear do país, paralisada há um quarto de século. Além disso, declarou que a intenção do governo é também começar a construção de uma quarta usina nos próximos anos. De Vido, um dos braços direitos de Kirchner, explicou que a conclusão da usina de Atucha II demandará investimentos de US$ 1,5 bilhão. O plano é que a terceira usina comece a funcionar em meados de 2009.

O ano escolhido tem um simbolismo especial, já que diversos analistas sustentam que a Argentina enfrentará graves problemas de abastecimento energético nesse período. O secretário de Energia, Daniel Cameron, afirmou que nesta quarta-feira será lançado o Plano Nuclear Argentino.

As duas usinas nucleares argentinas em funcionamento - Atucha I (localizado no município de Zárate, à beira do Rio Paraná, perto de Buenos Aires) e Embalse (em Río Tercero, na província de Córdoba) são responsáveis por 4,5% da potência instalada no país. Atucha I tem 357 megawatts de potência instalada e Embalse, 648 megawatts.

Atucha II fica ao lado de Atucha I, que foi inaugurada em 1974, fato que transformou a Argentina no primeiro país latino-americano a contar com uma central nuclear.

A construção da usina de Atucha II transformou-se em uma novela interminável. As obras começaram em 1981, em plena ditadura militar, e continuaram com a volta da democracia, em 1983, sob o governo do presidente Raúl Alfonsín. Mas, em 1994, o então presidente Carlos Menem decidiu suspender as obras. De lá para cá houve tentativas de privatizar todo o pacote de usinas, mas não surgiram empresas interessadas.

Cerca de 80% das obras de construção civil estão prontas. Nesta semana seria lançada a licitação para a conclusão dos 20% restantes e a instalação dos equipamentos. Informações extra-oficiais indicam que a empresa selecionada para a instalação seria canadense. As obras da usina e sua manutenção após a paralisação implicaram gastos de US$ 3,05 bilhões.

O governo também deve anunciar nesta quarta-feira os planos para a retomada da produção de urânio. O mineral seria enriquecido em uma proporção de 3% e seria utilizado para abastecer as três usinas nucleares.

A Argentina produziu urânio enriquecido até 1983 no complexo tecnológico de Pilcaniyeu, localizado a 70 quilômetros da cidade de Bariloche. No entanto, a fábrica está totalmente paralisada há 25 anos.

OBRAS

Para driblar os constantes problemas de abastecimento energético que assolam o país desde 2004, o governo Kirchner planeja aumentar a capacidade da usina hidrelétrica binacional de Yaciretá, sobre o rio Paraná, compartilhada com o Paraguai.

Dentro do pacote das denominadas megaobras que o governo Kirchner planeja está também a construção da hidrelétrica de Corpus, também sobre o Rio Paraná, que seria binacional com o Paraguai.

Essa hidrelétrica foi a causa de uma grave crise diplomática em 1978 com o Brasil, que na época construía Itaipu com o Paraguai. Apesar das reclamações argentinas, Corpus nunca saiu do papel. Kirchner pretende que a obra finalmente seja realizada. Calcula-se que custaria US$ 2,4 bilhões, para produzir 2.880 megawatts.

Outra obra que está nos planos de Kirchner é a hidrelétrica de Garabi, sobre o Rio Uruguai, que seria compartilhada com o Brasil.